Outras delicadezas floresceram para celebrar a alegria da data, como o chá-surpresa que reuniu familiares e amigos em ciranda para cantar o Parabéns. Teve lembrancinhas doces, porque meninas de todas as idades adoram essas fofurinhas, e vó Anita, como crafter de mão cheia, não poderia passar sem elas.
Há dois anos, tive a oportunidade inesquecível de conhecer a "floresta" da vó emprestada, lá em Santa Cruz, e suas companheiras de quatro patas: Belinha e Mila. Poderia ter feito um ensaio fotográfico se as condições de fotógrafa fossem melhores. O pátio, pequeno em extensão, abriga dezenas de espécies de plantas, novidades e flores há muito não-vistas pelos recantos e canteiros. Voltei com o porta-malas transformado em um viveiro de mudas, arbustos já crescidos e até uma pequena árvore. Generosidade da mãe e da filha, guardiãs de espaço sagrado e curativo, que hoje colorem meu quintal e garantem a lembrança diária das amigas.
E como as frutinhas não caem mesmo longe do pé, a filha Lourdes, minha grande amiga de coração gigante, que me empresta até a mãe para chamar de vó, segue escrevendo a história do quintal, a trajetória das Hübler, mulheres fortes que têm a natureza como subsistência primeira da alma. Muito antes do mundo acordar para as questões ecológicas, a professora Lourdes desafiava os conceitos vigentes e ia à luta para defender a árvore da rua, o ninho do poste, as pilhas de papel da escola descartados no lixo... Dona de um imenso amor incondicional a tudo que pulsa, respira, vive, uma reverência constante à natureza, uma afetividade materna latente à Terra. Abençoada genética (espiritual?) que vai levando em frente as melhores qualidades ancestrais.
Lá, tudo cresce rápido, feito massa de pão em dia quente, e se multiplica, e vai tomando conta da calçada, e casa com a vizinha, e gera outra cor, e nasce entre pedrinhas... e dá um trabalhão, mas quem diz que as jardineiras pensam em reduzir o "jardim botânico"!
Talvez para guardar o que os ciclos levam, a jardineira, que também escreve com a mesma desenvoltura com que lida na terra, tem nova paixão: a fotografia. E não é que brincando com seus cliques pela cidade e na zona rural, a que se diz aprendiz já foi premiada! A foto, do Templo Maçônico (à direita no postal), levou o primeiro lugar em concurso do seu município. Os bastidores, soube por telefone: para captar o melhor ângulo, com a acácia emoldurando o prédio, a fotógrafa deixou de lado a inibição e ajoelhou-se na calçada, ao pé do Templo, cedo da manhã, enquanto em frente os trabalhadores esperavam o ônibus na parada.
Porque imagens guardam, sim, segredos, e quem tem sensibilidade para garimpá-las é capaz de nos surpreender sempre, a festa da vó Anita driblou duplamente o calendário e desembargou aqui hoje, via sedex. Que segredos aquela caixa inesperada poderia resguardar? Assim que abri, fui tele-transportada no tempo: para trás, com as cenas da festa de 90 anos que não pude participar, e para frente, com os presentes de Natal! produzidos pela dupla. Quase ouvi o ho-ho-ho do velhinho barbudo rindo do meu estado eufórico.
Não estava lá, mas tenho a bonita homenagem publicada no jornal e o coração de biscoito...
Tenho também mimosices preciosas produzidas pelas mãos ágeis e pacienciosas da vó Anita e sua discípula, que começam a produção natalina no meio do ano, e a cada ano inventam uma moda nova. Confesso que espero o presente das "meninas" prendadas com expectativa. Como poderia ser diferente se me enchem de mimos há muuuitos Natais? Dessa vez, guardanapo aplicado, pano de prato com barrinha floral, mini-oratório, íma de joaninha, embalados com uma customização digna dos melhores designers.
Uma agenda dos próximos três meses, totalmente preenchida por um roteiro para guiar os passos por todos os anos que virão. Um mapa, conduzido pelas palavras colhidas de grandes mestres, recortadas ao longo da jornada, coladas em papel reciclado. Um "viva à vida" contagiante...
Que vem lá de Santa Cruz, pela voz de quem reza quando o Sol nasce de uma maneira só sua: distribuindo grãos aos pássaros em forma de cruz (santa) na calçada do jardim, enquanto agradece e pede proteção a todos. (Quem não chega a tempo do café da manhã, pode servir-se depois no restaurante.)
Sim, querida, os anjos disseram e continuarão dizendo amém aos milagres que o teu bom coração, movido à boa vontade, promove por onde passas. Obrigada, sempre, por partilhá-los e por me acolher no ninho farto da vó Anita.