Há semanas ensaio um manifesto em defesa das belezas do outono, aos meus olhos tão injustiçado pelo clichê das folhas mortas e retorcidas pelo chão e árvores nuas e desprotegidas. Os que frequentam o AMÉM sabem da minha preferência marqueteada pelo frio, tudo pela incompatibilidade absurda com o verão. Sofro na pele e no humor com os dias escaldantes desse Sul cada vez mais destemperado. Então, depois de meses de inadequação e desassossego, volto pra casa quando lá por abril as temperaturas começam a ceder. Dizem que o que identificamos no externo é espelho das nossas matrizes internas. E a afirmação, na qual confio, acaba me gerando uma certa insegurança: será que todos esses encantos que pulam às minhas vistas por tantos cantos do meu jardim e dos lugares por onde passo são reflexo do meu astral, miragens criadas pelo deslumbramento com a estação que anuncia a temporada gelada nessa ponta do país? Dia desses me atrevi um pouco mais, e depois de muito observar a paisagem pelas janelas por puro deleite, anunciei à comadre que o outono, além de ser tão esplendoroso quanto a primavera, tem muito mais borboletas que a badalada estação das flores. Se queria impactar, até que consegui um pouco. Mas como a comadre é jardineira desde sempre e conhecedora e estudiosa das coisas da terra desde sempre também, tratou de analisar a questão sem prejulgamentos. O pode ser ficou no ar, o que já me conferiu um gostinho de vitória. - Se quem entende tanto da natureza deu ouvidos a minha humilde (mas firme) constatação, acho que não estou viajando tanto assim... - continuo pensando a cada nova cena com as criaturinhas aladas que fazem festa bailando, cada turma do seu jeito, assim que o Sol dá as caras depois da neblina do amanhecer ou dos dias de chuva.
enquanto se banqueteiam do mel raro a um palmo da câmera, mansas...
e fazem as melhores poses, sem pressa, sem medo, que todo fotógrafo sonhou ter na sua mira. À volta, muitas outras, de outras tribos e outros comportamentos, passam voando sem mostrar nenhum interesse pelo "achado" das amigas. Pousam rapidamente nas bougainvilles, fazem um lanchinho estilo fast food nas tajetes, descansam ao lado na begônia... E eu, sentada na grama, embevescida, cliclo, clico, clico... o panapaná... e agradeço, agradeço, agradeço... Amém!
* Panapaná: Meu sobrinho Bruno falou sobre a aula de coletivos, e ficamos lembrando de um, e de outro, e mais outro... Dias depois, descobri neste post aqui que, apesar da minha devoção de toda vida às borboletas, jamais ouvira falar no seu coletivo. Panapaná, pelo dicionário, não é considerado coletivo, mas a designação de origem indígena a um bando de borboletas que aparecem em determinada estação.
No último domingo, ensolarado, a Grande Mãe, que adora surpreender, resolveu me dar uma forcinha na tese. Usando seu talento com preciosismo, montou uma cena de dar inveja a muito roteirista. Chamou um panapaná* usando como isca a bromélia nativa, presente da comadre há alguns meses e que acabara de fazer florescer pela primeira vez um pendão de gominhos amarelos, entumescidos e pintados de marrom nas pontas, entre as folhas viçosas.
As estrelas do set, feito formiguinhas, rapidamente avisaram as companheiras sobre o tesouro doce, e desde então, a família multicolorida, combinando suas cores com as da flor, brincam de mimetismo e me convidam a brincar de adestradora de borboletas...enquanto se banqueteiam do mel raro a um palmo da câmera, mansas...
e fazem as melhores poses, sem pressa, sem medo, que todo fotógrafo sonhou ter na sua mira. À volta, muitas outras, de outras tribos e outros comportamentos, passam voando sem mostrar nenhum interesse pelo "achado" das amigas. Pousam rapidamente nas bougainvilles, fazem um lanchinho estilo fast food nas tajetes, descansam ao lado na begônia... E eu, sentada na grama, embevescida, cliclo, clico, clico... o panapaná... e agradeço, agradeço, agradeço... Amém!
* Panapaná: Meu sobrinho Bruno falou sobre a aula de coletivos, e ficamos lembrando de um, e de outro, e mais outro... Dias depois, descobri neste post aqui que, apesar da minha devoção de toda vida às borboletas, jamais ouvira falar no seu coletivo. Panapaná, pelo dicionário, não é considerado coletivo, mas a designação de origem indígena a um bando de borboletas que aparecem em determinada estação.