A dupla chegou aqui com a missão de concretizar um projeto de anos: a construção de uma área nos fundos da casa para abrigar os amigos em volta do forno erguido pelo filho, um milagre alicerçado na total inexperiência com a lida de pedreiro e um apaixonamento gigante por pizza.
José, construtor, que também faz as vezes de carpinteiro honrando seu nome bíblico, é o comandante da empreitada e guia de Jesus, seu fiel escudeiro.
Nas poucas semanas de convívio, impossível não reconhecer a performance exemplar dessa parceria que trabalha sem parar jogando conversa fora baixinho, buscando soluções, às vezes assobiando, com um bom humor imbatível. Nem o peso absurdo das vigas de eucalipto, nem o sol escaldante foram capazes de tirá-los do prumo. Sintonizados numa mesma intenção, cumpriram o prometido na data marcada, mesmo com São Pedro jogando contra e impedindo o trabalho nos muitos dias de chuvarada.
O forno, grande estrela do espaço, está quase pronto para a inauguração, com uma lista de convidados que se espicha feito massa de pizza em mãos de pizzaiolo hábil.
Cresce também o meu olho pelos entulhos que se avolumam pelo quintal. Seu José e Jesus, e os guris da casa também, me olham só de canto enquanto recolho tocos e pedaços de varas de madeira, telhas, retalhos de calha e reúno num cesto, como tesouro, os galhos da velha laranjeira sacrificada para dar lugar ao telhado.
Renascimento
E então, como sucateira teimosa que gosto de ser, mostro a eles o primeiro resultado do que iria para o papa-entulho ou seria queimado no fogo inaugural do forno. A vida que se foi a machado renasce como o primeiro elemento de Natal na decoração da casa. E como outro milagre, a laranjeira volta a nos fazer companhia, agora como pinheiro.
Os ingredientes da mágica não poderiam ser mais simples: gravetos, galho mais grosso para o tronco, meio toco de uma fatia de vara de eucalipto, lascas de madeira, pregos e cola quente.
Aqui a Analu mostrou de onde veio a inspiração. E a Susi também colaborou com a ideia com
esta sugestão.
E dessa empreitada de tantas mãos, fica a fé cimentada de que a simplicidade gera riqueza. Riqueza de tranquilidade e eficiência, como provam os mestres José e Jesus.
Riqueza de satisfação, como mostram meus olhos admirando o pinheiro de gravetos.
Fica também a certeza de que quero um Natal assim, simples. Para isso, preciso fazer o caminho de volta a uma manjedoura para perder o excesso de expectativas acumuladas por aí, fora do meu quintal.