quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Bolão de Natal

A flor mais vintage e guardiã dos meus Natais abre-se em estrelinhas simétricas, perfeita geometria sagrada, e me leva lá pra trás. Na casa da amiga meio irmã, os bolões nos vasos ornamentavam o presépio do maior e mais bonito pinheiro da minha infância. Éramos meninas privilegiadas pelos dons das mães que cultivavam flores e preparavam doces especiais em dezembro. Fífi, que não só tinha apelido de fada como a suavidade delas em tudo que fazia, deixou sementes mágicas. Os bulbos das bolas vermelhas, mandalas formadas por centenas de "anteninhas de borboleta", são prova incontestável. Depois de mais de 30 anos que Fifi vestiu-se de estrela e foi morar no céu, continuam se multiplicando e florescendo. Fífi e a menina que fui renascem em dezembro no meu jardim. E uma nostalgia doce toma conta de mim, tão doce quanto suas rapadurinhas de leite, tão alegre como eu era quando ganhava um saquinho delas como presente do Noel.

domingo, 29 de novembro de 2009

José, Jesus e o milagre da laranjeira

A dupla chegou aqui com a missão de concretizar um projeto de anos: a construção de uma área nos fundos da casa para abrigar os amigos em volta do forno erguido pelo filho, um milagre alicerçado na total inexperiência com a lida de pedreiro e um apaixonamento gigante por pizza.
José, construtor, que também faz as vezes de carpinteiro honrando seu nome bíblico, é o comandante da empreitada e guia de Jesus, seu fiel escudeiro.

Nas poucas semanas de convívio, impossível não reconhecer a performance exemplar dessa parceria que trabalha sem parar jogando conversa fora baixinho, buscando soluções, às vezes assobiando, com um bom humor imbatível. Nem o peso absurdo das vigas de eucalipto, nem o sol escaldante foram capazes de tirá-los do prumo. Sintonizados numa mesma intenção, cumpriram o prometido na data marcada, mesmo com São Pedro jogando contra e impedindo o trabalho nos muitos dias de chuvarada.

O forno, grande estrela do espaço, está quase pronto para a inauguração, com uma lista de convidados que se espicha feito massa de pizza em mãos de pizzaiolo hábil.
Cresce também o meu olho pelos entulhos que se avolumam pelo quintal. Seu José e Jesus, e os guris da casa também, me olham só de canto enquanto recolho tocos e pedaços de varas de madeira, telhas, retalhos de calha e reúno num cesto, como tesouro, os galhos da velha laranjeira sacrificada para dar lugar ao telhado.

Renascimento
E então, como sucateira teimosa que gosto de ser, mostro a eles o primeiro resultado do que iria para o papa-entulho ou seria queimado no fogo inaugural do forno. A vida que se foi a machado renasce como o primeiro elemento de Natal na decoração da casa. E como outro milagre, a laranjeira volta a nos fazer companhia, agora como pinheiro. Os ingredientes da mágica não poderiam ser mais simples: gravetos, galho mais grosso para o tronco, meio toco de uma fatia de vara de eucalipto, lascas de madeira, pregos e cola quente.Aqui a Analu mostrou de onde veio a inspiração. E a Susi também colaborou com a ideia com esta sugestão. E dessa empreitada de tantas mãos, fica a fé cimentada de que a simplicidade gera riqueza. Riqueza de tranquilidade e eficiência, como provam os mestres José e Jesus.
Riqueza de satisfação, como mostram meus olhos admirando o pinheiro de gravetos.
Fica também a certeza de que quero um Natal assim, simples. Para isso, preciso fazer o caminho de volta a uma manjedoura para perder o excesso de expectativas acumuladas por aí, fora do meu quintal.