Nas última semanas, as marias-sem-vergonha perderam de vez toda e qualquer inibição e com suas cores vibrantes são o centro das atenções de quem chega aqui. Já à distância, o pessoal é fisgado por sua exuberância e sobe a escada em exclamações, buscando os melhores adjetivos para expressar o maravilhamento com o maciço vermelho-rosa-lilás que emoldura a base da janela. Junto delas, muitos penduricalhos que foram se enturmando na grade feiosa, infelizmente necessária, na tentativa de camuflá-la. As bandeirinhas budistas, confesso que escolhidas mais pelo olho na graça da sua expressão do que pela questão espiritual, ainda assim cumprem seu papel de me lembrar do poder do invisível. "As bandeiras de oração são para os seres como uma medicina suave, um
apelo silencioso à maravilha que temos dentro de nós desde sempre e para sempre", esclarece este site dedicado ao tema. E como budismo e natureza andam de mãos dadas, reina uma harmonia bonita nesse espaço compartilhado. Gosto dessas "construções" que vão se criando espontaneamente, sem muitos critérios, e que estão em constante movimento. Obras inacabadas, talvez assim defina melhor a impressão também das casas que me agradam. E a janela principal da minha é assim, o retrato do seu interior (e do meu também). Volta e meia chega uma coisinha nova para mudar o cenário, e mesmo com resistência taurina ao desapego, sai uma outra para dar o lugar. E dessa vez saiu um irmão gêmeo desgastado pelo tempo para entrar outro mais robusto e novinho em cor.
A madeira foi surrupiada do cesto com gravetos para a lareira no nosso último passeio. Amor instantâneo pelo azul desbotado, super vintage, separei logo do monte e coloquei rapidinho na sacola, na esperança do delito passar desapercebido do marido. Que nada, atrás de mim um par de olhos reprovadores, incrédulos, me observava. Bem mais incrédula fiquei eu com sua reação à minha ação de recolhedora de "lixo" tão conhecida, repetida mil vezes ao longo da vida partilhada. Mas dei a mão à palmatória com sua observação: Tá minado de cupins!! - Sim, mas... ainda assim, vou levar e dar um jeito. Ô teimosia histórica! - li no seu silêncio. Mal sabia ele que o melhor da novela do tal graveto estava por vir, e se pensou já ter visto o máximo das ideias hilárias que acabo por colocar em prática, imaginem o tamanho da sua surpresa quando, dias depois, encontrou o pedaço de madeira, belo e faceiro, dentro do freezer, bem juntinho das fôrmas de gelo!
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A "técnica" de descupinização, que ouvi do irmão, acabo de ver numa rápida pesquisa que é mesmo recomendada para peças pequenas. Se quiser saber mais sobre os indesejados bichinhos, clique aqui. Se funcionou, só o tempo dirá, mas como está na rua, vale o risco. Na base do graveto, pendurei vidros (de palmito, garrafinha de azeite de oliva e potinho de remédio) pintados com verniz vitral. O pulo do gato para a cor ficar uniforme é pintar por dentro. Inicialmente, a tinta parecerá escorrida, mas logo que seca o resultado surpreende.
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E é com esse cartão-postal de primavera prematura que dou as boas-vindas à vida que se renova, mesmo que em pequenas escalas, e aos que dela participam, ao vivo e online. Amém.
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