No jardim castigado pelo frio rigoroso e ainda desfalcado de flores, abri um pouco mais os olhos e logo encontrei soluções para recepcionar os convidados com cor. As "bromelinhas" parasitas das árvores velhas são paixão antiga. Costumávamos enfeitar o presépio com elas quando criança. Eram vendidas pelo verdureiro na época de Natal. O Péia, uma vez por semana, estacionava sua camioneta abastecida de produtos de sua chácara e reunia as donas-de-casa da rua em volta num burburinho de conversas e pechinchas. Lembro que torcia para que sobrasse algum dinheiro à minha mãe depois de escolher legumes e verduras para levar algumas das lindas flores para o nosso pinheiro. Hoje elas estão ao alcance da minha mão assim que sopra um vento mais forte que as leva ao chão, não custam nada, mas pagaria para tê-las, sem dúvida, pela beleza tão singular da sua forma e combinação estonteante de tons. Rosa e roxo, as pequeninas também me lembraram outra preciosidade da natureza: os grandes ananás que a Laély mostra no seu post de hoje, com as mesmas cores. Confira aqui.
Acomodadas no suporte de madeira da entrada, recepcionaram os convidados com a elegância incontestável do singelo. E foram também alegrar a sala, junto com outros achados miúdos, alguns até malquistos, como a erva-de-passarinho (?), que se enrolou no pescoço do vasinho cor-de-rosa e inventou bossa para se casar com a rosa "achada" na calçada da vizinha. Na jarrinha, temperos também fazem bonito, como os pendões do manjericão e da sálvia, os botões perfumados da laranjeira, algumas poucas das também cheirosas e ainda raras lavandas, galhinhos de alguns "inços" e as bromelinhas.
E o que tivemos para jantar? Talharim com ragu de carne. Ragu?! Molho de carne cozida no vinho por muuuuitas horas. Saborosíssimo e... muito econômico, não tem como não recomendar. A base da receita é assim: numa panela alta, frite cerca de 1 kg de carne de segunda (aqui no Sul, as mais conhecidas são chamadas de agulha e paleta) em pedaços grandes, temperados com sal e pimenta-do-reino. Junte 2 cebolas e 2 dentes de alho picadinhos, 1 lata de tomates pelados ou 6 tomates sem casca picados, 3 cenouras cortadas em pedacinhos, e refogue. Coloque 2 folhas de louro e 3/4 de uma garrafa de um bom vinho tinto seco (qualidade média a preço em torno de 10,00 a 15,00 está mais do que bom). Abaixe o fogo e deixe cozinhar por no mínimo 3 horas, acrescentado o restante do vinho e água para não queimar a carne e obter o molho. No final do cozimento, a carne está tão macia, que para desfiá-la basta usar dois garfos. Junte a carne desfiada ao molho, corrija o sal e sirva sobre o macarrão da sua preferência.
E o final feliz: mousse de chocolate branco com calda de maracujá. Receita preparada meio "no olho", desse jeito aqui: pique 1 barra (180g) de chocolate branco, coloque numa panelinha com 250g de nata (creme de leite fresco). Leve ao fogo baixo e mexa até o chocolate derreter, acrescente 2 gemas e cozinhe mais 2 minutos. Bata 2 claras em neve e junte 1 colher (sopa) de açúcar. Dissolva 3 folhas de gelatina sem sabor e sem cor ou 1 colher (sopa) de gelatina em pó sem sabor conforme a embalagem e junte às claras em neve. Por fim, misture delicadamente o creme de chocolate. Para a calda de maracujá, usei o suco de 3 frutas com 2 colheres (sopa) de açúcar e meia xícara de água e levei ao fogo por cerca de 1o minutos. Coloque a metade da mousse numa tigela e leve à geladeira até solidificar. Espalhe um pouco da calda e cubra com o restante da mousse. Devolva à geladeira e, antes de servir, cubra com mais calda e umas sementinhas. Para brincar de Nigella, esfarelei algumas bolachas de chocolate e polvilhei a primeira camada antes da calda.
Que muitas outras noites fartas movimentem a ciranda das amizades.