terça-feira, 29 de setembro de 2009

Literatura vintage

Guardados como relíquia na estante, os volumes da Coleção Mundo da Criança, editado no Brasil em 1954!, são herança do marido que veio no seu "enxoval", para alegria da menina do passado que muito os namorou na biblioteca da amiga de infância. Um encantamento que, hoje sei, já anunciava o caminho profissional da menina crescida. Anos depois, seus poemas e histórias foram pauta de inúmeras edições do caderno infantil, o Sininho, filho virtual de 19 anos que segue sob meus cuidados.
As páginas ganharam o amarelo da idade, o que confere um charme a mais às suas ilustrações de uma beleza e delicadeza de embebedar os olhos. De tão lindas, a vontade é emoldurá-las, todas, e montar uma galeria de arte retrô em casa. Faço um recreio na idade madura, tiro um tempo para voltar no tempo e enquanto folheio sem pressa, a mágica se faz: as cenas aquareladas me puxam para dentro e me trazem a criança que fui, a criança que foram os amigos. Crianças bem-comportadas, de pequenas peraltices, arrumadinhas como se os dias fossem sempre de festa, sapatos lustrosos. Crianças que brincavam com a natureza e as tarefas domésticas e faziam disso um deleite sem igual.

Sigo viagem pelo passado e um pit-stop nesta cena rende boas recordações. Uma das primeiras tarefas que fui considerada apta a realizar na cozinha, tal qual a menina da imagem, também já sinalizava o gosto pelas panelas. Debulhar ervilhas frescas recém-compradas do verdureiro na calçada tinha um status importante. Quem sabe não demoraria tanto assim para o fogão ser liberado.
Mas com um pouco mais de atenção, percebe-se que as imagens inocentes retratam muito além do universo infantil da época. Revelam os pais que tivemos, o estilo de vida que levaram, os padrões da sociedade das décadas de 50 e 60. O poeminha do alto mostra com fidelidade esse tempo tão outro. Em várias páginas, mulheres que parecem ter acabado de sair do banho, com vestidos do dia-a-dia impecáveis, cuidando de bebês rosados e calmos em seus bercinhos ou cadeiras de mesa, preparando bolo, estendendo cestos de roupa, costurando, lavando o chão, sem um fio de cabelo fora do lugar ou um suorzinho na testa e nenhuma expressão de desconforto ou TPM. Mulheres que recebiam o marido na porta com um olhar plácido, sorriso sereno e beijo cor-de-rosa, providenciando o destino da sua pasta, casaco, depois a toalha perfumada para seu banho e o jantar servido na hora, fumegante e delicioso...
A eles, os maridos, cabia um único papel, bem reproduzido nas imagens desenhadas: sustentar a casa e a vida boa da esposa (Que fazes, papai? Trabalho e ganho dinheiro/ E tu, mãezinha, que fazes? Faço compras com o dinheiro), além dos rápidos momentos de alegria com os filhos.

Respiro longo para voltar ao presente. Antes de devolver os livros aos seus lugares, escaneio as imagens e, enquanto a máquina trabalha, falo com os botões: além da estética, o que nos seduz nessa onda vintage de forma tão arrebatadora? Que mel é esse que o passado usa para adoçar o presente e nos derreter? Mas como eles não respondem, invento uma última cena: quem sabe a próxima geração saberá decodificar essa nostalgia gostosa que nos devolve um pedaço do que deixamos se perder por aí...

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Saud(ação) floral

No embalo da primavera, a semana inicia com o convite a saudarmos as ações que semeiam cor e alimento à vida.

Mandala em vidro, 25 cm de diâmetro, peça única (disponível)
Mandala em vidro, 20 cm de diâmetro, peça única (disponível)