quinta-feira, 9 de junho de 2011

O aniversariante e seus bolinhos

Na véspera do aniversário do meu fiel escudeiro, como diz a querida Helô, o sobrinho Bruno, mostramos que levamos mesmo a sério a constatação aquela que diz que a festa começa nos preparativos. Prontinho para comemorar sua primeira década, vestiu o avental e provou que nesses 10 anos aprendeu bem mais das lidas da confeitaria do que essa tia julgava. E como num desses reality shows gastronômicos, abraçou o desafio e o bowl delegando-me a simples tarefa de auxiliar na orientação dos ingredientes e na logística do forno e coberturas dos seus bolinhos.
Resolvemos preparar duas receitinhas da Ana Sinhana, várias vezes testadas e aprovadíssimas. Esta
daqui permite muitas variações, como mostrei aqui. Aproveitamos essa outra sugestão da Ana e os pequenos cortadores de biscoito entraram em ação. Muita calma nessa hora - pedia ao petit patisserie - mas mesmo que eles rachem um pouquinho, depois de "nevados" a imperfeição desaparece.




E a neve de açúcar de confeiteiro cobriu as tampinhas recortadas (e parte do chão da cozinha...rs).

Usando o doce mais saboroso que meu paladar elegeu quando criança e nunca perdeu o posto, o leite condensado cozido na lata, fizemos uma ganache agregando colheradas dele com chocolate meio-amargo e um pouquinho de creme de leite. Tudo misturado em banho-maria, ganhou uma consistência ótima e açúcar na medida. Recheamos os muffins com uma colherada farta e os vazados ficaram bem preenchidos de marrom escuro, num belo contraste.

É chegada a hora tão esperada de colocar as etiquetas preparadas por Bruno com antecedência. Criar e assumir a assinatura é quase um rito de passagem nessa época boa da vida, não é mesmo? Treiná-la, lembro bem, ocupava páginas dos cadernos. O "quase pré-adolescente", como se define, exercitou bastante personalizando a produção, e se saiu bem também nessa etapa.
Na segunda fornada da mesma receita, usamos rodelas de banana, polvilhadas com açúcar e canela, distribuindo um pouquinho de massa no fundo das forminhas de papel, banana e outra camada de massa. Depois de assados e frios, foram cobertos com a sobra do leite condensado e um detalhezinho da ganache.

Mas não poderiam faltar os bolinhos mais amados pelas crianças (as grandes, inclusive), e os cupcakes de chocolate mostrados nesse outro aniversário ganharam confete sobre a ganache (que ainda sobrou para o confeiteiro comer purinha).

E como o dono da festa é "multifuncional", fechamos a cozinha com o garoto-propaganda fazendo o marketing do seu próprio produto, entusiasmado com a façanha realizada em tempo recorde, com os melhores resultados. Vamos abrir uma confeitaria? - fui convidada assim que entramos no carro com as formas recheadas. Sorrio para meu sócio, voltando nos anos, quando a cada aniversário seu recebia o pedido de um bolo temático. Conto a ele algumas sinopses da minha vida de boleira de tempos atrás e ele entende que, hoje, só posso brincar de doceira. Um tanto nostálgica, reconheço que Bruno não só me alcançou na (pouca) altura, mas que também mostra maturidade para aceitar o bastão e dar conta de dar forma a seus sonhos.

"Não dê o peixe, ensine a pescar", acho que estou aprendendo, de preferência, na melhor companhia dos meus meninos mestre-cucas de cuca legal. Amém!

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Da mala da comadre

Sempre me impressiona, e encanta, os fenômenos que acontecem com aqueles que se conhecem profundamente, pelo direito e pelo avesso, lado A e lado B (fazendo vistas grossas com suas implicações....rs). Entre tantas manifestações do poder dessa intimidade, é quando os amigos viajam que uma delas me faz cafuné no coração: relatam em minúcias cenas e passagens que sabem de antemão me causariam um alvoroço de alegria. Às vezes são detalhezinhos, como uma espécie de árvore, a moldura de uma janela, a textura de um doce. E como num toque de varinha de condão, vivencio a situação como se tivesse participado dela, chegando bem perto do sabor, do cheiro, da vibração da cor, da emoção do momento...

Comadre tem essa capacidade aguçada de me dar carona nas suas andanças. Descreve como só ela lugares, povos, costumes, tudo ricamente detalhado, dispensando até fotos. Adoro ouvi-la, como criança escuta histórias antes de dormir e vai ficando molinha, molinha.... Dessa vez, voltou com a bagagem transbordando de novidades gastronômicas, culturais, religiosas, comportamentais, depois de uma aventura com sua grande família pela Europa. Num intervalo delicioso do cotidiano meio castigado dos últimos meses, em dia de aniversário, emprestei meus ouvidos com muito gosto para os melhores momentos que ela foi pinçando de acordo com meus interesses. Logo de início, tira uma caixa cor de rosa da sacola anunciando que ali morava uma coleção de coisinhas que recolhera para mim pelos trajetos da "expedição". Assim que a vi, vivi mais uma vez a certeza de que grandes amigos promovem o milagre de se apropriar de nossos olhos e fazer escolhas certeiras dos principais nutrientes da nossa alma. E foi assim que a comadre me trouxe a tesoura mais linda do mundo...


O dedal mais charmoso... A latinha de balas mais fofa...
E o São Francisco mais doce.

Na estreia dos presentes, preparei um outro, para uma bela menina que vi crescer e agora usa aliança na mão direita.Sim, querido Quintana, "amar é mudar a alma de casa". A comadre é fera nisso.Que por aqui também os canais do afeto estejam sempre abertos, para irmos mais longe, para estarmos cada vez mais perto. Amém!