quarta-feira, 22 de junho de 2011

Vermelho e azul com bolinho

Será que a histórica rivalidade entre colorados e gremistas, apesar de não curtir futebol, era a razão da minha antipatia de até bem pouco tempo pela combinação vermelho e azul? Ou seria culpa da associação com a bandeira norte-americana, que segue não caindo nas minhas graças estéticas (nem com todo talento da rainha do craft Martha Stewart inventando moda para as comemorações do 4 de julho), muito menos nas graças políticas e tanto mais que representa? Uma coisa é certa: nem tudo que repudiamos um dia permanece nos causando mal-estar. De outra coisa também não tenho dúvidas: o olho desperta para novidades quando menos se espera e, aí, o que até então desagradava, num belo dia mostra sua outra face. Quando vimos, temos novos amores. Assim, com a colaboração de uma profusão de imagens casando azul e vermelho pelos blogs afora, acabei rendida. Hoje engrosso a turma dos apaixonados pelo casamento dos rubros com celestes, turquesas, anis...



Renovei então a despensa das linhas e tenho palpitações a cada descoberta de um novo tecidinho que conjugue as cores, como o da toalhinha que me acompanha nos últimos dias. Ela já deveria estar pronta e ter tomado o rumo da casa da presenteada, que aniversariou ontem, mas faltou mão e sei de antemão que serei perdoada pelo atraso. Confiança que as amizades estabelecem como só elas, né? Tem também aqueles em quem confiamos de olhos fechados enquanto abrimos o pacote, os que acertam sempre na escolha de nossos presentes. Com o filho é assim, a afinidade mútua com a cozinha garante, mesmo que nossos olhares de menina e menino, de amadora e de profissional, peguem caminhos opostos nos detalhes. Muitas vezes ele consegue driblar a situação e encontra um caminho do meio, com peças "unissex". Noutras, se rende um pouquinho às mimosices que sabe renderão um plus de alegria na alma cor de rosa da mãe, e ganha o dobro de beijos. No Dia das Mães, não deu outra: as xícaras em pares vermelhos e azuis, em tons vintage, me fizeram feliz em dobro. Pela beleza das peças de louça portuguesa e por sua sensibilidade para conhecer até minhas paixões recentes, ataca-me a corujice cada vez que vão à mesa.
Nessa semana cinzenta, suas cores parecem mais desbotadas nas fotos, mas ao vivo, garanto que ajudaram a quebrar a monotonia dos cafés, mais ainda tendo como fundo as cerejinhas da Bela. Mas faltava um item nesse cenário para entrar por instantes no País das Maravilhas. Bolinhos, é claro! E para buscar outras novidades, testei o Bolo de Cenoura e Nozes, da última edição da Claudia Comida&Bebida, dispensando recheio e cobertura, requinte e calorias demais para uma Alice de mentirinha.

Vale experimentar:

1 cenoura grande ralada grosso

1/2 xícara de nozes trituradas

1 xícara de açúcar

2 ovos grandes

90 g de manteiga sem sal derretida
1 1/2 xícara de farinha de trigo

1 1/2 colher (chá) de fermento em pó

1/2 colher (sopa) de bicarbonato de sódio

1/2 colher (chá) de canela em pó

Na batedeira, bata a cenoura com as nozes e o açúcar.

Junte os ovos e a manteiga e bata por mais um minuto.

Sem parar de bater, adicione a farinha misturada com o fermento, o bicarbonato e a canela até a mistura ficar homogênea.

Em fôrmas ovais de 12 cm untadas e polvilhadas com farinha (usei uma pequena de orifício central e outras de papel para cupcake), leve ao forno moderado, preaquecido, por 25 minutos ou até dourar.

Rendeu 6 bolinhos, de massa delicada e sabor suave, deliciosos.

Bom final de feriado, quem sabe com bolinho, hum? Amém!

domingo, 19 de junho de 2011

Agulhas & poesia

Minhas mãos continuam as mesmas, quase sempre dispostas a encarar projetinhos artesanais, já as palavras, às vezes parece que o gato (Bibi?) roubou. Daí, a melhor carta na manga é chamar os poetas, entregar-lhes a missão de dar significado ao que nasce meio no escuro aqui.

Fala, então, meu querido Rubem Alves, e diz que fascínio é esse que me toma juntando mandalas de crochê:

"Gosto de armar quebra-cabeças. Nome errado. Eles não quebram a minha cabeça. Ao contrário, põem a minha cabeça no lugar. Nome mais apropriado deveria ser “junta-cabeças”. Todas as atividades que implicam arrumar, armar, juntar, montar, tecer têm uma função terapêutica. Elas ativam processos organizatórios das emoções e das idéias. Juntando as peças do meu junta-cabeças sobre a mesa vou juntando as peças do meu junta-cabeças interno."
E sobre o xale tricotado, o que tens a lembrar?

"Dizem alguns, entre eles Jung, se não me engano, que “coincidências” não existem. Coincidências, eles dizem, só são coincidências quando vistas na face direita do tapete. Mas, se pudéssemos olhar o avesso, encontraríamos os fios do destino que fizeram aquele encontro inevitável. Os homens veem o direito; os deuses tecem o avesso."

Vê só, Rubem, experimentei um recadinho dos deuses há pouco, aqui, ó: combin(ação).

E pra fechar com palavras de ouro, uma grande poeta de alma encantadoramente crafter, Marina Colasanti, que me fez buscar a imagem de um pedacinho do meu reino das coisas miúdas:

"As coisas que quase ninguém vê e as coisas pequenas me seduzem muito. Gosto de costurar, gosto de fazer tricô, gosto de bordar. E tenho muita paciência. Posso desmanchar uma saia inteira, se ela não ficar do jeito que eu queria. Eu estou sempre interessada no detalhe, nas coisas pequenas, nas belezas encobertas. Tenho a sensação de que, quando estou entretida no pequeno, me aproximo mais de mim. O pequeno é uma roupa de escafandrista, uma roupa de mergulhar... " Obrigada, donos de tanta inspiração, por puxarem a ponta do novelo com tamanha delicadeza e desenrolarem o que tantas vezes se embola em nós dentro de nós, tecendo pontos de luz para nos acordar. Que a poesia nos salve sempre. Amém!