
Feitas as queixas, desabafo para tentar exorcizar o bafo quente dessa primeira tarde de férias, mostro o resultado do tema de casa que me propus ao levantar na madrugada. A proposta: eleger ao menos algumas coisas bacanas do verão, dentro da linha "tudo tem seu lado bom". Missão um pouco facilitada pelo sangue de Poliana que corre fluido nas minhas veias, a primeira imagem vista foi a de um belo cacho de uvas Isabel. Agarrei-me a ela, com a nítida impressão de ser salva, afinal, quem consegue reconhecer uma qualidade, vai encontrar outras e quem sabe lidar melhor com o desassossego dessa realidade que é fato e ponto. Então, aproveitando os graus a menos da madrugada e o silêncio da casa que dormia, fui pra cozinha.
Um cesto de uvas Isabel, vindas lá de Bento, me esperava.
Na panela com um pouco de água, elas ferveram, ferveram... Depois, passadas rapidamente na peneira, a alquimia mostra o resultado: diluído em mais um pouco de água gelada, com uma colherzinha de açúcar, é o melhor suco, o preferido em disparada que faz a festa do meu paladar desde menina. Gosto ma-ra-vi-lho-so de verão... (me rendo!)


Na batedeira, 200 g de manteiga, 3 gemas e 2 xícaras de açúcar, batendo até ficar ficar uma mistura clara. Juntei intercaladamente 2 xícaras de farinha de trigo, uma de maizena, 1 colher(sopa) de fermento em pó e uma xícara de leite. No final, as 3 claras em neve. Na hora de enformar, deixei a nostalgia de lado e resolvi inventar, usando forminhas de papel (dentro de forminhas de empada). Coloquei as uvas sem sementes, passadas na farinha de trigo, no centro dos bolinhos e polvilhei açúcar cristal. Foram ao forno alto nos primeiros 15 minutos e médio até estarem coradinhos.

Enquanto me deliciava com o primeiro bolinho saído do forno, a memória gustativa, que faz milagres com o tempo, me puxava a orelha, pela voz da minha mãe que ainda hoje não deixa passar: Não se come bolo quente, menina! E minha porção rebelde, que continua esperneando com algumas sentenças, abocanhou outro pedaço, toda senhora de si.

Férias inauguradas com a madrugada produtiva, vejo o sol alaranjar o céu do dia nascido e as cigarras darem início a sua cantoria estridente, sinais evidentes de mais um dia "daqueles", e volto toda prosa para a cama no quarto refrigerado. Desligar o despertador, funcionar pelo nosso relógio, dar voz ao que nos salva: coisas muuuito boas das férias (algumas, tá bom, das férias de verão).