sexta-feira, 28 de maio de 2010

Um panapaná no meu jardim!

Há semanas ensaio um manifesto em defesa das belezas do outono, aos meus olhos tão injustiçado pelo clichê das folhas mortas e retorcidas pelo chão e árvores nuas e desprotegidas. Os que frequentam o AMÉM sabem da minha preferência marqueteada pelo frio, tudo pela incompatibilidade absurda com o verão. Sofro na pele e no humor com os dias escaldantes desse Sul cada vez mais destemperado. Então, depois de meses de inadequação e desassossego, volto pra casa quando lá por abril as temperaturas começam a ceder. Dizem que o que identificamos no externo é espelho das nossas matrizes internas. E a afirmação, na qual confio, acaba me gerando uma certa insegurança: será que todos esses encantos que pulam às minhas vistas por tantos cantos do meu jardim e dos lugares por onde passo são reflexo do meu astral, miragens criadas pelo deslumbramento com a estação que anuncia a temporada gelada nessa ponta do país? Dia desses me atrevi um pouco mais, e depois de muito observar a paisagem pelas janelas por puro deleite, anunciei à comadre que o outono, além de ser tão esplendoroso quanto a primavera, tem muito mais borboletas que a badalada estação das flores. Se queria impactar, até que consegui um pouco. Mas como a comadre é jardineira desde sempre e conhecedora e estudiosa das coisas da terra desde sempre também, tratou de analisar a questão sem prejulgamentos. O pode ser ficou no ar, o que já me conferiu um gostinho de vitória. - Se quem entende tanto da natureza deu ouvidos a minha humilde (mas firme) constatação, acho que não estou viajando tanto assim... - continuo pensando a cada nova cena com as criaturinhas aladas que fazem festa bailando, cada turma do seu jeito, assim que o Sol dá as caras depois da neblina do amanhecer ou dos dias de chuva.
No último domingo, ensolarado, a Grande Mãe, que adora surpreender, resolveu me dar uma forcinha na tese. Usando seu talento com preciosismo, montou uma cena de dar inveja a muito roteirista. Chamou um panapaná* usando como isca a bromélia nativa, presente da comadre há alguns meses e que acabara de fazer florescer pela primeira vez um pendão de gominhos amarelos, entumescidos e pintados de marrom nas pontas, entre as folhas viçosas.
As estrelas do set, feito formiguinhas, rapidamente avisaram as companheiras sobre o tesouro doce, e desde então, a família multicolorida, combinando suas cores com as da flor, brincam de mimetismo e me convidam a brincar de adestradora de borboletas...
enquanto se banqueteiam do mel raro a um palmo da câmera, mansas...
e fazem as melhores poses, sem pressa, sem medo, que todo fotógrafo sonhou ter na sua mira. À volta, muitas outras, de outras tribos e outros comportamentos, passam voando sem mostrar nenhum interesse pelo "achado" das amigas. Pousam rapidamente nas bougainvilles, fazem um lanchinho estilo fast food nas tajetes, descansam ao lado na begônia... E eu, sentada na grama, embevescida, cliclo, clico, clico... o panapaná... e agradeço, agradeço, agradeço... Amém!

* Panapaná: Meu sobrinho Bruno falou sobre a aula de coletivos, e ficamos lembrando de um, e de outro, e mais outro... Dias depois, descobri neste post aqui que, apesar da minha devoção de toda vida às borboletas, jamais ouvira falar no seu coletivo. Panapaná, pelo dicionário, não é considerado coletivo, mas a designação de origem indígena a um bando de borboletas que aparecem em determinada estação.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Torta da Vovó Donalda invertida


Como prometido, a receita da Tarte Tatin, preparada pelo filho, chef Vicente Sperotto (clique no nome para conhecer seu Flickr) para você experimentar o gosto da festa que rolou por aqui na última semana.
Ingredientes da massa: 350g de farinha de trigo, 150g de manteiga sem sal, 50g de açúcar, 100ml de leite, 1 pitada de sal
Modo de preparo:

Peneire a farinha com o sal e o açúcar e acrescente a manteiga fria em pedacinhos.
Com a ponta dos dedos, incorpore a manteiga à farinha.
Acrescente o leite aos poucos até formar a massa e deixe descansar por, no mínimo, 2 horas.


Prepare a cobertura:
Descasque 8 a 10 maçãs verdes ou fuji e corte-as em fatias grossas.
Em uma frigideira grande que possa ir ao forno, faça o caramelo com 1 xícara de açúcar e 3/4 de xícara de água.
Coloque as maçãs e deixe que cozinhem um pouco.

Acrescente 100g de manteiga sem sal em pedacinhos, polvilhe canela em pó e cozinhe mais um pouco.
Abra a massa sobre superfície enfarinhada um pouco maior que o diâmetro da frigideira e cubra as maçãs.
Corte o excesso de massa e leve ao forno preaquecido em temperatura alta, por cerca de 30 a 40 minutos.
Na falta do dourador no forno, usou-se o maçarico para dar cor à massa. Desenforme morna.
Para pecar em dobro, sirva morninha com sorvete de creme ou creme de baunilha. Para comer abençoando... Amém!
Receita adaptada do site de Olivier Anquier