domingo, 6 de março de 2011

Saindo da casca

Pintinhos de pompom, macios, anunciam faceiros a contagem regressiva para a festa do renascimento, e para quem o Carnaval passa bem longe, a referênciados 40 dias que antecedem a Páscoa é o sentido maior do feriadão, ensolarado no Sul, para alegria dos foliões e viajantes. Mal sabem eles, os amarelinhos, a carona que pego nessa promessa, o quanto brincar de transformar fios de lã em criaturinhas fofas tem aliviado os dias aflitivos daqui. Além da ninhada, nascem também figuras crochetadas para montar o cenário onde vão morar.
Um arco-íris em forma de florzinhas, folhas, casca de ovo, arranjados em guirlandas cobertas de verde em tom que lembra relva, que lembra ilustração antiga de famílias de coelhos nos preparativos para a Páscoa.
Nessas cenas campestres, também não podia faltar o cesto recheado de ovos, escondido entre as gramíneas, e, vez que outra, cogumelos vermelhos, que aos meus olhos de criança ganhavam em beleza até dos chocolates. Considerei um pequeno milagre reproduzir essas lembranças tecendo pontinhos, laçadas, misturando fios, texturas...
Trocando a agulha de crochê pelas de tricô, o personagem principal da comemoração ganhou forma rapidinho. Segui os passos dos Chiquinhos (aqui) e o seu Coelho ganhou um jeito meio malandrinho. Prevenido para uma Páscoa tardia este ano, já em clima de outono.... ...enrolou-se num cachecol na cor da sua refeição preferida.
Enquanto bordo os votos em pequenos pontos, envergo arame e cubro-o com muitas e muitas voltas de lã, testo pétalas e invento miolos, a fantasia singela da Páscoa toma os pensamentos, multiplica ideias para outros projetinhos, traz para perto um certo encantamento das fábulas, dá um pezinho para alcançar um recreio da realidade. E se o que nasce das agulhas é puro faz-de-conta, não importa. Por momentos, vale tudo, e então fantasia-se o presente na tentativa de resgatar a sintonia com a beleza. E por pura graça, faz-se a mágica! Os olhos recuperados voltam a encontrar a grandeza da vida, num intervalinho de tempo, começando pelas minúsculas manifestações do sagrado no meu jardim.
"O tempo passa. O fôlego retorna. Parece milagre, mas as sementes de cura começam a florescer nos mesmos jardins onde parecia que nenhuma outra flor brotaria. A alma é sábia: enquanto achamos que só existe dor, ela trabalha, em silêncio, para tecer o momento novo. E ele chega." (Ana Jácomo)
Que a esperança seja nosso norte para chegarmos à Páscoa rendidos ao desejo de acordar o que precisa despertar em nós. Amém!
P.S. As guirlandas estão disponíveis para viajar para casas que curtem esperar pelo Coelho num astral de alegria bem colorida. Para falar com Dona Coelha (rs), entre em contato pelo e-mail: rosanasperotto@hotmail.com