sábado, 10 de julho de 2010

O que as princesas comem?

sobre as refeições das princesas as pessoas dizem muitas bobagens. Que uma princesa se alimenta exclusivamente de maçãs, que almoça compota de rosa, que pode se contentar apenas com o olhar de um príncipe apaixonado na hora do jantar.
Na verdade, as princesas comem como todo mundo.
Única diferença: tudo o que comem primeiro é
examinado cuidadosamente
e testado por um degustador
porque nos palácios há sempre brigas, e as disputas entre princesas se resolvem na base do veneno. Por isso elas muitas vezes comem comida fria.
Com a devida permissão de quem entende do assunto, como os autores do livro que vem guiando os posts sobre o episódio palaciano no Restaurante Bouquet Garni, em Gramado, na visita da amiga Laély ao RS, nos entregamos às luxúrias da mesa, nem um pouco comedidas. Se princesas comem de tudo, e nem sempre o menu é leve, na nossa noite de conto de fadas não precisamos nem nos deter muito ao cardápio. A escolha estava predefinida por indicação do filho, chef que fez a função do degustador e garantiu que não corríamos riscos, nem de alguma decepção, se a pedida fosse uma pierrade (variação do fondue, com bifinhos de filé grelhados na pedra aquecida por rechaud pelos próprios comensais). Princesas são curiosas, principalmente quando se trata de desvendar alquimias gastronômicas. Conclusão para justificar nossa entrega quase de olhos fechados à experiência de provar cada um dos molhos, salgados, picantes, agridoces, doces, sem nenhum receio de nos envenenarmos pela mistura dos tantos sabores, marcantes. Impossível não querer eleger o melhor e deflagrar o conflito: como escolher só um, ou só dois, ou só três? Resta um consenso: são todos com muita personalidade, confirmando que também na cozinha, como em outros universos, cada ingrediente tem seu valor. Alguns se casam com harmonia, outros brilham solitários, e saber combiná-los não é só questão de técnica, mas de ousadia, bom senso e sensibilidade de quem prepara e de quem degusta.
Voltemos ao livro: Princesas amam sorvete!
Sorvete leve à base de água,
polpa e frutos proibidos.
É a sobremesa preferida das princesas,
tanto que elas o tomam
até mesmo antes das refeições.
As receitas são deliciosas e variadas:
Sorvete de verão ou sorvete de inverno,
sorvete de bagas, sorvete de flores.
Sorvete de cardamomo,
muito cheiroso, e sorvete das bailarinas,
famoso por sua leveza.
Sorvete da noite, sorvete de uma noite,
Sorvete negro, sorvete marfim.

As companheiras ponderaram duas vezes e se renderam: vamos aos prazeres da sobremesa! Pensaram mais algumas vezes com o delicado cardápio (que reproduz em aquarela a fachada do restaurante à beira do Lago Joaquina Bier) em mãos para decidirem compartilhar o sorvete de uma noite.Enquanto elas atacavam, eu julgava que passar pela tentação doce era coisa de princesa vacinada, por momentos, do pecado da gula, mas mal sabia o que o pedido de um simples cafezinho iria me apresentar.

Um luxo para arregalar os olhos de qualquer princesa, e de súditos também! Para acompanhar o café, tuile, lembrando uma luminária, chocolatinho com a logotipia do Bouquet Garni e... pétalas de rosas caramelizadas. Sim, uma receita digna de constar em qualquer livro que se proponha a desvendar os mistérios "princesísticos", mas que pensando melhor talvez precise mesmo ser resguardada a sete chaves para não roubar-lhe o encanto. Dividimos irmamente a iguaria e saboreamos como um ritual sagrado, igual à criança pequena que se delicia com as novidades do mundo e assim vai (des)cobrindo os sentidos. Sentidos acordados pela beleza de tantos detalhes, do primeiro ao último movimento do serviço...

projetada em cada ângulo do "palácio de cristal"... com seu teto de vidro exibindo a araucária iluminada ... e seus ambientes mesclando também madeira e pedra, numa atmosfera provençal de sonhos.

A noite memorável se encaminhava às 24 badaladas quando as três princesas, alimentadas de muito do que faz a alma brilhar, se despediram do capítulo que por anos recorreremos para reavivar a convicção de que a vida reserva lindas surpresas, mais prováveis quando damos uma "mãozinha" ao destino e um "pezinho" uns aos outros para alcançar estados de graça. E em estado de graça, a tempo da carruagem não virar abóbora e congelarmos na volta a Canela, o registro para o post e a posteridade do nosso jantar estrelado, lembrando a todas as "meninas" a sentença da Princesa Efêmera da China:


Uma vez princesa, sempre princesa!

(Ainda que em certos dias as bruxas nos cerquem para nos convencer de que somos da sua turma, e façam mil convites venenosos para trocarmos o palácio iluminado pelo porão sombrio, nós temos a força da beleza vivida, antídoto para a amargura, elixir para recuperar tempos perdidos e sonhos adormecidos. Amém!)

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Uma noite de princesas (efêmeras?)

Princesa Efêmera da China
Faz parte de uma dinastia em que se é princesa somente por um dia.
Princesa muito bonita, graciosa como uma libélula, leve como o ar.
A vida de Efêmera dura apenas algumas horas:
de manhã ela acorda em seu casulo, depois cresce bem depressa até voar com as próprias asas. Podemos observá-la no jardim, aspirando o perfume das flores, usando vestidos magníficos. Ela rodopia sob o sol brilhante, ouvindo os gracejos dos príncipes que lhe fazem a corte, vestidos de pesadas armaduras.
Então anoitece, seu reinado se acaba e, com um bater de asas, ela desaparece na noite iluminada de vaga-lumes.
Incorporando a história do deslumbrante livro "Princesas Esquecidas ou Desconhecidas", de Philippe Lechermeier e Rebecca Dautremer, Editora Salamandra, vamos dar seguimento a ela estendendo pela noite a vida da personagem na pele de três princesas de carne, osso e mente fértil de imaginação. Assim nos sentimos, Laély, Jane e eu, no jantar de despedida da serra, em junho, como a amiga visitante mostra no seu post de hoje. Quer entrar no nosso conto de fadas? Vista sua alma de encantamento, vá até lá, na sala da princesa lá, veja os primeiros capítulos, e volte aqui amanhã, para os desdobramentos, combinado? Bons deslumbramentos!

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Desabotoando...

(google imagens)
... um vínculo de 20 anos, trabalho que se confundiu com brincadeira, que se abasteceu nas vivências da minha infância e fez da minha criancice a matéria-prima para a criação de quase 900 edições do caderno infantil gestado no coração e batizado de Sininho, um filhote que virou mascote do Jornal VS ...

... a semana começa com a vida mudada, a agenda com estranhos clarões, a intuição sinalizando lampejos do que virá, sem pressa nem atropelos... E como mãe de filho crescido e bem encaminhado, com orgulho de missão cumprida, despeço-me devagarinho de um ciclo de dedicação constante e inesquecíveis gratificações. Ouço o conselho da sábia tia Dada: "Muitas vezes, é mais sadio desabotoar uma situação ao invés de cortá-la". Desabotoo um grande amor para garantir-lhe a eternidade. E numa gaveta forrada de papel de seda e perfumada de tutti frutti, a menina que mora em mim abraça o menino que pelos caminhos da fantasia me fez crescer e juntos asseguram que seguem comigo pelas trilhas vívidas da memória. Em paz, fica a certeza de que tudo está no seu lugar, que os "sininhos" continuarão a tocar e... a nos inspirar. Amém!