sábado, 21 de agosto de 2010

Jantar custo(mini)mizado

Casal de amigos que não conhecia a casa, mas conhece os donos há mais de 30 anos, veio jantar ontem. E com tempo para pensar e organizar o encontro, dediquei parte das horas aos preparativos. Um luxo impraticável até semanas atrás, quando as sextas-feiras eram os dias mais puxados de trabalho. Sentindo-me então uma privilegiada, deliciei-me nas tarefas de ajeitar a casa, bolar e executar o cardápio. Gosto das filosofias que valorizam o estar atento ao agora, o colocar atenção em cada movimento e ação, sejam elas grandiosas ou tão pequenas e rotineiras que facilmente nos passam batidas. E enquanto montava o cenário e mexia em panelas, lembrei dos relatos que acompanhei durante a semana das amigas virtuais que se assumem "pão duras", econômicas, como a Cynthia e a Ana Medeiros. E relembrei do quanto fazer parte dessa turma "mão fechada" facilita também a minha vida, de como o "fazer chover com pouco" é exercício que não canso de treinar. Incorporada desse princípio, fui em busca dos meios para "customizar" o jantarzinho, botando fé que o fim (que as visitas se sentissem recebidas com alegria e carinho) justificaria o empenho.
No jardim castigado pelo frio rigoroso e ainda desfalcado de flores, abri um pouco mais os olhos e logo encontrei soluções para recepcionar os convidados com cor. As "bromelinhas" parasitas das árvores velhas são paixão antiga. Costumávamos enfeitar o presépio com elas quando criança. Eram vendidas pelo verdureiro na época de Natal. O Péia, uma vez por semana, estacionava sua camioneta abastecida de produtos de sua chácara e reunia as donas-de-casa da rua em volta num burburinho de conversas e pechinchas. Lembro que torcia para que sobrasse algum dinheiro à minha mãe depois de escolher legumes e verduras para levar algumas das lindas flores para o nosso pinheiro. Hoje elas estão ao alcance da minha mão assim que sopra um vento mais forte que as leva ao chão, não custam nada, mas pagaria para tê-las, sem dúvida, pela beleza tão singular da sua forma e combinação estonteante de tons. Rosa e roxo, as pequeninas também me lembraram outra preciosidade da natureza: os grandes ananás que a Laély mostra no seu post de hoje, com as mesmas cores. Confira aqui.

Acomodadas no suporte de madeira da entrada, recepcionaram os convidados com a elegância incontestável do singelo. E foram também alegrar a sala, junto com outros achados miúdos, alguns até malquistos, como a erva-de-passarinho (?), que se enrolou no pescoço do vasinho cor-de-rosa e inventou bossa para se casar com a rosa "achada" na calçada da vizinha. Na jarrinha, temperos também fazem bonito, como os pendões do manjericão e da sálvia, os botões perfumados da laranjeira, algumas poucas das também cheirosas e ainda raras lavandas, galhinhos de alguns "inços" e as bromelinhas.
E na mesa do jantar, as primeiras orquídeas, moradoras da goiabeira, dão o ar da sua graça, anunciando que a primavera não demora a chegar. Missão bem cumprida pelas meninas de diferentes espécies que devem saber do meu apreço por elas e da minha antipatia por todo o sempre pelas flores artificiais, de toda e qualquer qualidade. O "parecem naturais!" que agrada a tantos e a tão aplaudida praticidade das flores reproduzidas em tecido estão a quilômetros do que me seduz. Mil vezes os inços e os matinhos, vivos de verdade.
Vela é recurso tão lindo, tão significativo, tão barato, não pode faltar. Parmesão de verdade também não (no final das contas, ele sai mais em conta do que o queijo em saquinhos, faça as contas), se o cardápio é de massas. O queijo já ralado, não tão bom, entrou como segunda opção para o caso de preferirem a comodidade.
Louça com história também faz uma diferença e tanto. A tigela personalizada foi presente de casamento da tia Dada, e segue presente em capítulos especiais.
E o que tivemos para jantar? Talharim com ragu de carne. Ragu?! Molho de carne cozida no vinho por muuuuitas horas. Saborosíssimo e... muito econômico, não tem como não recomendar. A base da receita é assim: numa panela alta, frite cerca de 1 kg de carne de segunda (aqui no Sul, as mais conhecidas são chamadas de agulha e paleta) em pedaços grandes, temperados com sal e pimenta-do-reino. Junte 2 cebolas e 2 dentes de alho picadinhos, 1 lata de tomates pelados ou 6 tomates sem casca picados, 3 cenouras cortadas em pedacinhos, e refogue. Coloque 2 folhas de louro e 3/4 de uma garrafa de um bom vinho tinto seco (qualidade média a preço em torno de 10,00 a 15,00 está mais do que bom). Abaixe o fogo e deixe cozinhar por no mínimo 3 horas, acrescentado o restante do vinho e água para não queimar a carne e obter o molho. No final do cozimento, a carne está tão macia, que para desfiá-la basta usar dois garfos. Junte a carne desfiada ao molho, corrija o sal e sirva sobre o macarrão da sua preferência.

Uma outra opção, caso houvesse alguma rejeição à carne vermelha, foi uma versão de yakisoba improvisada com os vegetais da geladeira: alho-poró, ervilha torta, cenoura, refogados rapidamente, um grupo de cada vez, em azeite de oliva com a frigideira bem quente, depois combinados com iscas de frango e, no final, com penne (uma heresia, que me perdoem os orientais). Adoro o colorido que isso rende!
E o final feliz: mousse de chocolate branco com calda de maracujá. Receita preparada meio "no olho", desse jeito aqui: pique 1 barra (180g) de chocolate branco, coloque numa panelinha com 250g de nata (creme de leite fresco). Leve ao fogo baixo e mexa até o chocolate derreter, acrescente 2 gemas e cozinhe mais 2 minutos. Bata 2 claras em neve e junte 1 colher (sopa) de açúcar. Dissolva 3 folhas de gelatina sem sabor e sem cor ou 1 colher (sopa) de gelatina em pó sem sabor conforme a embalagem e junte às claras em neve. Por fim, misture delicadamente o creme de chocolate. Para a calda de maracujá, usei o suco de 3 frutas com 2 colheres (sopa) de açúcar e meia xícara de água e levei ao fogo por cerca de 1o minutos. Coloque a metade da mousse numa tigela e leve à geladeira até solidificar. Espalhe um pouco da calda e cubra com o restante da mousse. Devolva à geladeira e, antes de servir, cubra com mais calda e umas sementinhas. Para brincar de Nigella, esfarelei algumas bolachas de chocolate e polvilhei a primeira camada antes da calda.
Que muitas outras noites fartas movimentem a ciranda das amizades.
Que o "cordão dos customizadores" cada vez aumente mais.
Que o domingo seja do tamanho do que sonhamos para ele. Amém"

terça-feira, 17 de agosto de 2010

E o banquinho renasceu...

Depois de ser apresentada a essa ideia aqui pela Vivianne, do Decoeuração, há meses, e de muito namorar a proposta para os bancos velhos, de diferentes tamanhos, que fui arrecadando ao longo dos anos, finalmente hoje o projeto nasceu. Mãe bem orgulhosa, daquelas que dá uma voltinha e volta pra dar mais uma olhadinha na cria, sei que pela empolgação a moda pegou e vai virar febre.
Como sou indisciplinada para seguir tutoriais, fui encontrando soluções para a cobertura do banquinho com tecidos conforme o trabalho andava. Para o assento, recortei retalhos em tamanhos diferentes e montei o quebra-cabeça sobre uma camada fina de cola branca espalhada na madeira com pincel. Para não desfiar, reforcei a cola nas bordas.

Os pés e réguas foram cobertos com tiras um pouco maiores que a circunferência, para trespassar, e fixadas com bastante cola embaixo e também por cima, para o tecido aderir bem. Revesti o verso do assento com feltro, em outro quebra-cabeça, para acertar a distância entre os pés. Colei com cola quente, assim como a tira de pomponzinhos...
e os sapatinhos cor-de-rosa, que pediram e ganharam laço de fita, parecendo sapatilhas de balé.
Ainda não sei bem onde o recém-renascido vai morar. Por enquanto, acomodou-se ao lado da poltrona (parte das heranças que andamos recebendo de braços abertos e logo mostro), bem na minha mira, para poder curtir aquela sensação tão boa de que muito é possível se recuperar quando mãos, criatividade e paciência entram em ação (uma metáfora plástica que adoro reforçar).
Se a febre for contagiosa, sentir coceira nas mãos e topar a brincadeira de montar um patchwork em 3D, depois conta pra gente. Porque o melhor disso tudo é ver as ideias se multiplicando, como aconteceu com o bolo de maçã que a xará Rosana Remor, do blog Artes Remor, testou e aprovou. Lindas inspir(ações) a todos!