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quinta-feira, 17 de maio de 2012

Maio e seus prazeres

Como tão bem declara minha amiga Anelise Bredow no seu calendário, "certos prazeres só se colhem com inocência. Ou espanto!". Não definiria melhor a impressão que tenho do mês de maio, das sensações suaves mas intensas que me traz a época onde o outono mostra sua beleza por inteiro. Lembro desse estado meio encantado ainda criança e agora, quanto mais coloco os dois pés na meia idade, maior fica minha preferência escancarada pela meia estação.
Maio me devolve uma certa inocência, e só por isso ele já mereceria ser meu "queridinho". Por medo de perdê-la, faço uma festa dentro de  mim quando alguma coisa no ar anuncia que aquela alegria genuína será despertada. Tão difícil descrever como esses pequenos estados de graça se desencadeiam, e a faxina que fazem nas áreas embaçadas por aflições, cansaço, desânimo. Quem cultiva-se inocente tem mais chance de manter a esperança agarradinha ao coração. E, só assim, acredito ser possível, vez que outra, ser tomado por relâmpagos de espanto, uma dádiva que nos devolve por instantes à criança pura e curiosa que fomos. Uma viagem rápida que enche o tanque de um misterioso entusiasmo e garante combustível para mais um bom trecho da estrada.
Capturei imagens de alguns desses momentos significativos, todos aqui  na rotina do meu reduto, onde me empenho (às vezes a reboque) a ser sentinela da vida que pulsa, a  despeito da mesmice que possa ser vista na superfície.
O jardim se renova na mesma intensidade da primavera. E entre os recém-renascidos, a arvorezinha que desconheço o nome exibe sua mágica: as flores desabrochadas bem branquinhas que mudam de cor conforme se fecham. Não sei o que é mais lindo, se a flor alva com seus pistilos amarelos, lembrando hibiscos, ou o botão fechadinho colorido de cor de rosa. Conhece, Fabiano?
Para meus sentidos, o ritual de preparar doce em calda é passaporte certo para pisar no território da ancestralidade. No caso da abóbora, a pergunta que acompanha o passo a passo é a mesma desde menina, quando via a mãe às voltas com a química da coisa: como alguém, algum dia, pensou em colocar cal para a casquinha ficar firme e o miolo macio? Salve o gênio dessa ideia crocante!
E não é que aqueles pezinhos quase esquecidos de crisântemos miúdos resolveram mostrar sua força?
Honrando o mês das noivas, casamento a vista! Vou levar esta mandala no cinto, bem exibida com a solução caseira bordada às pressas.
A ísis também quis se exibir na semana passada. Uma passadinha rápida de apenas um dia, mas de grande esplendor. E eu ali fotografando e dando serviço aos meus botões: e se ela vivesse por meses me causaria o mesmo frenesi? A possibilidade da perda iminente, em todos os reinos, sem dúvida potencializa a admiração, o afeto, a gratidão.
E maio é também mês pra dividir o soprar velinhas com o irmão também taurino, agora também cinquentão. Uma noite feliz por tantos motivos: pelo melhor irmão que a vida poderia ter me presenteado, pela comemoração no restaurante do filho, pela companhia tão desejada da nossa mãe... Uma curtição modelá-lo como um cartum.
E elas, os bandos, sem exagero, que me chamam para fora, que me tiram da toca e  hipnotizam com seus bailados, rasantes, pousos ... É sagrado, em dias ensolarados, que a melhor sobremesa é sentar quietinha no quintal e pegar carona nesses movimentos que tanto me dizem. A  única forma que sei meditar.
Que o cardápio de maio ainda reserve a todos nós outras belas surpresas! Amém.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Friiiio e as amigas cancerianas


(Para ver o PAP do bonequinho clique aqui)


Há bem mais de uma semana os gaúchos buscam alternativas para não "encarangar", expressão ressuscitada nesse julho congelante, num misto de humor e uma certa aflição que as temperaturas bem abaixo dos 10 graus têm provocado, até em quem gosta do inverno desde sempre. Sou dessa turma, que espera ansiosa pela temporada de se deliciar com os raios quentinhos de sol, dos blusões sobre blusões, bolsa de água quente na cama, fogãozinho a lenha aceso, banhos bem demorados com água quase escaldante (sei, sei, nada aconselhável para a pele e o cabelo, mas nesse friozão, mais me valem esses minutos de relaxamento). Mas confesso: esse inverno como os de antigamente anda me mostrando sua face pouco romântica, a mais clara delas, que não combina com convalescentes. As dificuldades na rotina de minha mãe, que passou por uma isquemia, aumentaram tanto com esse clima, que adoraria ter uma varinha de condão para trazer à luz uma primavera prematura. Sem o poder da mágica, rastreio a meteorologia em busca de boas notícias, torcendo por dias que amanheçam menos frios e mantenham a temperatura próximas dos 20 graus. Hoje me entusiasmei. De acordo com os homens e mulheres do tempo, isso deverá acontecer na próxima semana. Um alívio, quem diria!
Inverno é tempo tão bom para as manualidades, que quem dera poder me dedicar a elas com a mesma intensidade desse frio histórico. Mas sempre é possível dar um jeitinho para fazer aquilo que supre um pouco da nossa carência de prazer. Então, montei uma super bolsa com materiais de fácil transporte, com lãs, agulhas, linhas, paninhos. É a minha parceirona do dia a dia, já pula no meu ombro e acompanha o vai e volta entre as casas. Mesmo que muitas vezes não consiga fazer mais do que duas carreiras de tricô ou crochê, ou bordar mais que alguns poucos pontinhos enquanto cuido da minha doentinha, é uma garantia de que posso ter alguns minutos de distração, e isso ajuda, e muito, a dar um colorido às horas.


Amigos cancerianos (lunáticos, sensíveis e amorosos de seu jeito que adoro), tenho vários deles, que estão trocando de idade, também dão um empurrãozinho nas pequenas produções. Com data marcada para os presentes, acabo mais comprometida e com maior agilidade. E assim tem nascido alguns mimos para dizer o quanto eles me são especiais.
Aqui, um presente anunciado, para fazer diferente dessa vez. Se a presenteada, que aniversariou no sábado mas ainda não ganhou o abraço nem a declaração de amizade, passar por aqui, aposto na ideia de que o protocolo quebrado possa ser uma maneira inédita de agradá-la.


Minha amiga-irmã de tantos anos é a prova de que o Poetinha sempre tem razão. Nos (re)conhecemos em meio a um grupo grande de trabalho e fomos laçadas pelo afeto que perdura em todas as estações da vida. Um presentão daqueles!
A almofada florida ficou tão alegre! Alegria de viver é o que mais lhe desejo...
... junto com bom humor, que os poás remetem.
Lá longe, no Espírito Santo, outra amiga querida também assoprou velinhas recentemente.
E aquele paninho que mostrei aqui no último post seguiu viagem para sua cozinha que me recebeu com quitutes e carinhos inesquecíveis, coisa que todo bom canceriano tira de letra. Amizade tão próxima nascida pelo mundo blogueiro que dá a ele um sentido maior e faz valer a pena nosso empenho e atenção às nossas casas virtuais.


A terceira canceriana da lista das maiores amigas, bem diferente das duas primeiras, ama o verão, e ama sua casinha de quatro rodas onde passa todo e qualquer tempinho de folga. O cenário campista tratou de reforçar a amizade iniciada pelos filhos, isso há quase 30 anos! Nos últimos meses, tem sido meu porto seguro, atendido com generosidade sem fim todos os meus pedidos de help e comprovado que médicos por verdadeira vocação fazem da profissão uma linda missão de luz.
Imprimi minha gratidão no panô.

Desejei que seus dias felizes sejam multiplicados, e que possamos continuar compartilhando desse amor à simplicidade que as estadas junto à natureza tanto nos proporcionam.
Embalei de um jeito também simples.

A mensagem se estende junto com meu abraço afetuoso a todos que batem à porta do Amém e entram com o coração disposto a aquecer o que temos de melhor: a reconhecer o melhor do outro. Amém!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Wandschoner, protetor das paredes e da história

Em Ivoti (RS), Cidade das Flores, uma antiga e bela tradição vem sendo resgatada pelo projeto Tecendo Memórias. Pude conferir de perto os wandschoner no fim de semana, quando a cidade recebeu visitantes para a Feira das Flores, junto ao núcleo de casas enxaimel. Foram três dias de um colorido intenso ressaltado pelo Sol forte do verão antecipado. Flores, arbustos, temperos, em abundância pelos canteiros dos diferentes jardins, paisagismo caprichado, propostas inovadoras despertaram nas visitas uma vontade urgente de botar a mão na terra, semear, cuidar, florir quintais, recantos, cantinhos... Além de toda essa beleza proporcionada pelo trabalho dos floristas e paisagistas, a mostra de artesanato também encantou o público. A mim, especialmente o trabalho das bordadeiras, senhoras do Grupo de Terceira Idade Amizade que estão há anos se dedicando a recuperar o espaço nobre dos panos protetores de paredes, num processo de resgate das memórias histórico-afetivas da comunidade teuto-brasileira. Os wandschoner, do dialeto Hunsrück, é um artesanato típico da Alemanha que foi trazido para o Brasil pelas famílias imigrantes alemãs. Confeccionados em tecido de algodão, têm no centro uma mensagem bordada (provérbio popular, citação bíblica...), escrita em língua alemã. Em torno da mensagem geralmente são bordados ramos de flores. Nas paredes, refletem e transmitem valores e normas das famílias. Durante a Segunda Guerra Mundial, a língua alemã foi proibida no nosso país, e assim a arte de bordar wandschoner acabou abandonada pelas mulheres.
Graças ao empenho do Projeto, coordenado pelo Instituto Superior de Educação Ivoti, desde 2004 a atividade foi retomada. As bordadeiras experientes encarregam-se de passar adiante a técnica e a alma dos panos. Em oficinas, já capacitaram mais de 3o mulheres a dar continuidade à arte delicada das imagens e palavras coloridas de história. E dessa forma, além de contribuírem para renascimento de uma tradição singela e carregada de significados, também semeiam uma nova alternativa econômica para essas novas artesãs, de diferentes idades, e para o município. Uma iniciativa movida a entusiasmo que se reflete no primeiro momento de conversa com as omas. Com a maior paciência, leram e traduziram várias frases dos panos expostos, enquanto minha vontade crescia de sentar na roda para ensaiar uns pontinhos nessa história tão bem bordada.

A Vivianne, do De(coeur)ação, também mostrou o uso abusadamente lindo de panos de parede, estes bem brasileiros, nas imagens do fotógrafo João Urban.