sábado, 6 de julho de 2013

O primeiro pão a gente comemora!

Sábado festivo por aqui, com gostinho bom de debut na cozinha. O veranico de julho levantou a possibilidade de aproveitar a temperatura mais alta para por as mãos num projeto arrojado. Para tantos que dominam a arte de fazer pão, essa ousadia parecerá um exagero. Mas, sei bem que desenvolvi um tabu em relação a minha capacidade de preparar pão, quase um trauma (rs), depois de algumas poucas tentativas frustradas, há muitos e muitos anos. Também justifico com a falta desse hábito na casa de minha mãe, que conta até hoje ter desistido da empreitada numa das poucas vezes que experimentou as lidas padeiras. A massa que ficara crescendo durante a noite aprontou uma surpresinha daquelas na manhã seguinte: extrapolara os limites da bacia, esparramando-se pelo chão, numa meleca histórica. O relato narrado de forma teatral deve ser o culpado dessa minha "fobia" ao tal fermento que precisa de tempo para levedar e mostrar sua força. Temo que cresça demais e faça o mesmo lambuzo, mas temo mais ainda que o danado não funcione e a massa não cresça o suficiente.
O rumo desse papo seria diferente se num muito abençoado dia uma nova personagem entrasse na minha vida para compartilhá-la como jamais suporia naquela época. Ana, que busquei numa fase tão difícil para ajudar nos cuidados com minha mãe, convalescendo de um AVC, logo ganhou minha confiança e, em poucas semanas, minha admiração. Não demorou também para que os laços evidenciassem que nossa relação estava numa escala muito além da profissional. Nosso troca-troca diário renderia um bom livro de auto-ajuda, com capítulos dedicados a várias áreas: economia doméstica, espiritualidade, psicologia, saúde e... culinária. De alma modesta, e iluminada, não cansa de afirmar que tem aprendido muito com nosso convívio, também com minha experiência no fogão e com algumas dicas do filho chef de cozinha. Nessa atmosfera de reciprocidade, também afirmo com todas as letras que não passa um só dia que não aprenda alguma coisa com a Ana. E entre tantos aprendizados, até pão ela conseguiu me ensinar a preparar, ficando ao seu lado de olho em cada movimento.
Então hoje, me encorajei a passar pelo ritual sozinha, mas com o telefone por perto caso precisasse de um help da mestra. Não foi necessário incomodar a amiga no seu descanso merecido. Três pães fofinhos enfeitam a mesa como troféu e um perfume de casa de vó ainda recepciona quem chega acordando a fome.
Pra quem também é novato nessa praia, deixo a receita:

Pão da Ana
Ingredientes:
1 kg de farinha de trigo
1/2 xícara de óleo
1/2 xícara de açúcar
2 colheres (sopa)  rasas de sal
2 colheres (sopa) de fermento biológico para pão (de bolinhas)
água morna
Preparo:
Faça um montinho com a farinha dentro de uma bacia e uma depressão no centro.
Coloque ali o fermento, o açúcar, o sal e o óleo.
Aos poucos, acrescente a água morna e vá misturando com as pontas dos dedos.
Junte mais água e envolva a farinha até dar ponto na massa (visguenta e molinha).
Cubra com um pano úmido e deixe a massa crescer (cerca de 3 horas).
Sove (os movimentos me lembram esfregar roupa no tanque) sob superfície enfarinhada e separe a massa em 3 porções.
Sove novamente cada porção e coloque em fôrmas untadas.
Espere crescer mais uma vez por mais ou menos 1 hora.
Leve ao forno em temperatura média, preaquecido, até dourar.
Retire do forno e pincele com uma mistura de café com um pouquinho de açúcar para a casquinha ficar macia.
Um brinde a essas criaturinhas que põem fermento no meu afeto, em nome da mãe e da filha emprestada. Um brinde ao universo que, nas suas manobras inesperadas, me presenteou com uma irmã camarada, uma companheira de fé, literalmente. Amém.
E, se quiser saber mais sobre essa palavrinha - companheiro - olha só que belezura este post da amiga Cecília, do Quilts são Eternos.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Domingo "colorex"


Numa arrumação no armário da cozinha na semana passada, reencontrei uma preciosidade lá no fundo: o prato de bolo Colorex herdado da sogra. Na época, torci o nariz pra ele, mas guardei, afinal, era um presente e provavelmente recheado de histórias de aniversários da família do marido. Na minha casa de menina também tínhamos um desses, que saía da prateleira em todas as festinhas para acomodar as tortas produzidas pela mãe, aquelas que acompanhávamos de perto os passos do preparo e aguávamos até a hora de saborear. 
Domingo meu prato antiguinho voltou à cena como cama de uma receita também vintage.  O Brigadeirão, que a  exemplo do Quindão, é barbada de fazer: aqui.
Antes disso, preparei o bolo de pêssego que Jamie Oliver chama de pudim, numa adaptação livre (rs) de outra adaptação, enfim, uma anarquia culinária que teve final feliz. Substituí os pêssegos in natura por pêssegos em calda que também estavam perdidos no armário. O resultado é um bolo de massa bem leve e úmida, perfeito tanto no chá ou café da tarde, como na sobremesa, nesse caso, melhor ainda se servido morninho com sorvete de creme. A receita está aqui.
Porque gosto que me enrosco de publicidade antiga, tão reveladora do modo de viver de cada época, ri muito quando reencontrei o slogan da Santa Marina para sua linha de louças:
"Se não for Colorex, não é Colorex".
Que não nos falte cor, sabor e bom humor. Amém.