quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Estante vestida





Tenho o olho espichado pelos briques desde a época de montar a casa para casar, isso lá na década de 80, coisa que fazia muitos torcerem o nariz, afinal, comprar tudo novinho era o sonho da grande maioria das noivas. Mesmo assim, com teimosia própria de uma taurina, temperada por certa rebeldia riponga (rs), firmei algumas propostas consideradas indecentes para o gosto vigente: fico com a cama da avó do marido, seu baú também, o balcão da sogra, as poltronas preteridas pela prima... Não quero sofá, me serve melhor um colchão no chão. Também troco de bom grado as estantes moduladas, tão na moda naqueles tempos, por caixotes de maçã (aí o povo quase desmaiava...).


Conto isso com aquele gostinho de orgulho que a subversão à ordem costuma deixar na gente, mesmo que tenha sido uma coragem bobinha. Conto para dizer da alegria que me toma vendo hoje pelos blogs tantas meninas montando seus ninhos com propostas tão parecidas àquelas que me entusiasmaram (e continuam entusiasmando). Conto para recontar a mim mesma que, graças aos céus, o tempo não levou meu olhar garimpador, esse que me salva da necessidade de ter o que tantos sonham, o que tantos pagam alto demais considerando-se tão efêmera a alegria de determinadas aquisições. Mas longe, bem longe de mim, qualquer pretensão de discurso ao desapego, já que o preço baixo não determina um valor afetivo menor ao que me rodeia. O encantamento pelas minhas coisinhas, sejam elas de terceira mão ou zero bala, é igual, e também como taurina genuína, sou apegada a elas feito chiclete. Tanto, que algumas me acompanham nesses 30 anos e continuam recebendo meu olhar enamorado, como a nossa cama de ferro, que não troco e não vendo por nada.


Tudo isso para mostrar a última investida na tentativa de organizar a bagunça que tomou conta da casa desde a vinda da mãe para morar conosco. Na pressa, recolhemos para a área dos fundos todas as traquitanas, todos os livros e toooodo o material de craftices do quartinho "guarda-tudo", para acomodá-la. Os meses foram passando e a gente ajeitando as coisas aos poucos, tal qual a nova realidade da família. Maleiros abarrotados, armários idem, ainda faltava encontrar uma morada para aqueles livros que gostamos de ter à mão. Foi quando entrou em cena a pequena estante arrematada há quase um ano num brique pobrinho de opções. Bem detonada, na época serviria para o acalentado craft room, depois de uma bela repaginada. Como o sonho está em stand bye, arregaçamos as mangas para torná-la útil às necessidades atuais. E não é que a bichinha coube direitinho no vão do armário do quarto?! Aqui, um parêntese: o roupeiro parece mesmo conspirar a nosso favor, desde que chegou desmontado, vindo da sua primeira dona, minha amigona Lourdes. Conforme o irmão montava, crescia a expectativa pelo espaço para o ar-condicionado. A torcida foi ao delírio quando as paredes se encaixaram em volta do condicionador certinho, tão justo, que talvez nem um armário sob medida ficasse assim perfeito. Mais um trunfo em defesa da compra de usados na ponta da minha língua (rs). Peguei carona no entusiasmo do Bruno e na energia física dos seus 10 aninhos e, depois de pintarmos a estrutura, no segundo tempo fizemos a colagem dos retalhos de tecido de maneira bem livre, sem muito pensar, sem muito querer combinar.
Arrematei com barrinha de crochê feita pela mãe, um tesouro tamanha delicadeza!


Depois de ocupada, o fundo colorido foi desaparecendo, encoberto pelos livros.
Mas não faz mal, a cena do meu querido companheiro de aventuras crafteiras compenetrado na sua missão, essa vale por todas as horas mal sentada ao seu lado, pelas mãos grudentas de cola. Também pela frustração de não encontrado o tom certo da tinta e nem um jeito de disfarçar o antipático fio do ar-condicionado naquele cantinho quase perfeito que me lembra casa de praia dos veraneios da infância.
Valeu, Bruno! Valeu, Cris e companheiras dessas Sextas que põem fermento no bichinho grilo que ainda mora em mim (rs)! Até a próxima! Amém.