sábado, 17 de novembro de 2012

Quanta doçura!

Adoro reconhecer que existem pessoas que adoçam nossa vida desde sempre. E mais,  ajudam a formar quem somos hoje desde a época em que, feito esponja, absorvemos o que nos rodeia com os filtros da nossa essência, aquela que parece mesmo já chegar aqui predisposta a determinadas relações de afinidade.  Com a dinda Telma é assim. Por ela, despertei para um dos meus primeiros orgulhos. A menina que fui sentia-se extremamente honrada por ser sua afilhada. Muito orgulhosa daquela mulher forte, decidida e amorosa, que contava aos quatro ventos ser apaixonada por mim antes mesmo de eu nascer. Na adolescência, ganhou o status de musa aos meus olhos ávidos por novos modelos do feminino. Uma aquariana clássica, que rompeu padrões da época, me anunciava um mundo tão maior do que via ao redor. Tudo nela me impressionava. Ela falava inglês fluentemente! Era secretária bilíngue. Ela morava sozinha, no Rio de Janeiro! Ela era alta, charmosa e exibia esses seus atributos nas passarelas, como manequim free lancer! Ela andava de avião como nós volta e meia andávamos de ônibus para a capital! E, o melhor de tudo: era minha dinda! Condição que me parecia um aval, uma bênção para também poder sonhar com horizontes mais largos. Suas cartas, carimbadas em alguma agência da cidade maravilhosa, repercutiam por muito tempo. Além das novidades cariocas que me entusiasmavam, me encantava a identidade gráfica. Datilografadas em máquina elétrica, em papel bem fininho, com fontes lindas, pareciam impressas. Suspirava... quem sabe um dia teria uma delas. Quem sabe, um dia, também teria uma coleção de louças em miniatura, um tesouro, igualzinha àquela que ela guardava numa caixa embaixo da cama, e que espalhava pelo chão para brincarmos de casinha. Privilégio, pensava eu, que só uma afilhada muito amada poderia ter.
Anos depois, ela bateu asas para a América do Norte, e a distância tão maior nos privou também da convivência rápida de suas visitas. Mas no meu aniversário, seu telefonema é sagrado. Esteja onde estiver, batemos um longo papo e colocamos pitadas de fermento nessa nossa receita de amor correspondido.
Com o fim da era dos "separados pelas milhas", hoje nos deleitamos trocando as experiências do dia a dia pelos abençoados canais virtuais. Ainda assim, sempre fica faltando o abraço. E, depois de uns 15 anos, na semana passada chegou a nossa hora de mandar a saudade embora e curtir o olho no olho emocionado, se enroscar num abraço gostoso, renovar nossos votos de afeto eterno, ao vivo, com todas as cores que merecemos.
Voltei aos meus 10 anos com sua passada pelo Sul, e confesso: meus olhos brilharam pelo kit de presentes para a cozinha igualzinho como na infância. Os capítulos se repetem. Ela continua me abastecendo de novidades, muitas. Alcançando-me o só conhecido à distância: paisagens, costumes, vivências da sua outra pátria, e também, de coisinhas especiais que ambas curtimos. Dentre essas, as que passam pelas panelas, paixão compartilhada desde aquela caixa de loucinhas, tão marcante. E eis que tenho agora um luxo para o preparo de bolos. 
Meus problemas na hora de untar a fôrma "se acabaram-se"! rs Bastam alguns jatos da gordura com farinha em spray...
colocar a massa...
e segurar a ansiedade enquanto assa...
pra... tchan, tchan, tchan, tchan: o bolo desenformar inteirinho, perfeitinho!
Com muita ganache, porque o momento merecia.
Com muita cumplicidade, como sempre foi, como sempre será.
Amém!
Bolo amanteigado de morango
Ingredientes:
100 g de manteiga
3/4 de xícara de açúcar
2 ovos
1/2 xícara de leite
2 xícaras de farinha de trigo
1 colher (sobremesa) de fermento em pó
1 colher (sobremesa) de essência de baunilha
raspas de casca de laranja
1 caixa de morangos

Preparo:
Bata a manteiga amolecida com o açúcar.
Junte os ovos e misture bem.
Acrescente a farinha peneirada com o fermento, intercalando com o leite.
Junte a baunilha e as raspas de laranja.
No fundo de uma fôrma pequena, untada e enfarinhada, disponha alguns morangos inteiros.
Coloque metade da massa, cubra com os outros morangos, enfarinhados, e finalize com a sobra da massa.
Leve ao forno em temperatura média até dourar levemente. Faça o infalível teste do palito.
Depois de frio, cubra com a ganache: 150 g de chocolate meio amargo + metade de uma caixinha de creme de leite, em banho-maria, até ficar homogêneo.