quinta-feira, 18 de março de 2010

Coelha teimosa = biscoitos vintage

Já faz alguns anos que ando atrás da "Feliz Páscoa" que já vivemos, festa que tem minha preferência entre as celebrações do ano, superando até o Natal, e olha que sou natalina. Talvez a preferência aconteça pelo link outono, renascimento, doces, o Coelho com sua identidade oculta, diferente da de Papai Noel, tão explorada e tantas vezes distorcida. Gosto do ritual dos momentos simbólicos da morte e ressurreição, da compra menos frenética de presentes, das brincadeiras antigas com os pequenos, entre outros quesitos encantadores que até abril com certeza aparecerão por aqui. Pois são as crianças que motivaram a reflexão para esse post, porque para elas, venho acompanhando consternada, Páscoa tem um sentido inverso ao que vivenciamos até uns 20 atrás. À garotada de hoje tem-se mostrado uma data vazia de encantamento, e lastimo muito essa perda. É um pedaço rico de fantasia que está sendo comido da sua infância, e a gente quase não se dá por conta e segue a massa, de cabeça feita pela mídia que vende aquilo que, se não nos acostumássemos, escandalizaria. Quando imaginaríamos o Coelho relegado a segundo ou terceiro planos para entrarem em ação os super-heróis da moda?

Onde foi parar a graça da surpresa se são nossos meninos, cada vez mais cedo, que escolhem no encarte das lojas o ovo que ganharão, nem tanto pelo chocolate, mas pelo brinquedo guardado lá dentro e que não tem nenhuma relação com o motivo da festa, poderia me explicar, Homem Morcego? Eles não ouvem mais o barulhinho bom dos bombons que se tentava adivinhar sacudindo o ovo, nem das passadas rápidas do Coelho nas noites de pouco sono dos sábados que antecediam o domingo mágico. Não vêem o vulto do orelhudo correndo pela casa. Muitos não ganham mais ninho, pois seus olhinhos brilham, e não por muito tempo, é pelos "badulaques-surpresa" dos tais ovos. Se o mundo lhes oferece histórias em fantásticas imagens nos telões em 3D, também lhes tira, ou não incentiva, o desenvolvimento da fantasia pura e simples, tão importante para a saúde emocional, para a alegria da alma, da infância à velhice.
Mas sou teimosa, bem mais quando a questão é perda de encantamentos, e ando então às voltas com o resgate das alegrias da Páscoa, incorporando a coelha doceira, papel que me alimenta como poucos. A inspiração para a produção 2010 nasceu na conversa com a amiga Susi, uma suíça biscoiteira de mão cheia. Pincei lá do canto das boas memórias a figura dos coelhos de biscoito de mel que não podiam faltar enfeitando o ninho dos filhos na minha casa de menina. Há anos não os encontro, tanto que tinham caído no esquecimento. Mas foram salvos e ficaram rondando até a ideia ganhar novo formato, mantendo a mesma estrutura: o pão de mel recortado, agora retangular, coberto por uma gravura, originalmente com a figura do coelho, agora com os belíssimos cartões vintage que me tomaram horas de deslumbramento neste endereço aqui do Flickr, com mais de 1.700 imagens. Na busca por uma massa fofinha, resolvi testar a receita da Lu Gastal, mostrada no Superziper no Natal. Aprovada e recomendada: clica aqui que você chega no destino das abelhinhas. Se quiser experimentar a brincadeira, aí vão algumas sugestões.
Para os retângulos, improvise usando lata de sardinha como cortador, ou faça um molde retangular de 15 x 11cm, em cartolina, como usei para recortar os biscoitos maiores.
Gostoso purinho, melhor ainda recheado: derreta 1 barra (17o g) de chocolate amargo e junte meio pote de um bom doce de leite. Misture bem...
espalhe uma camada generosa sobre um biscoito e cubra com outro.
O resultado que deixou a coelha toda faceira, com direito a uma mordida bem dada, para mostrar a textura da massa. (clica na imagem para ver os detalhes das belas ilustrações)
E aí em cima, parte da produção embalada (melhor parte da brincadeira) como antigamente, com três ingredientes que não podem faltar na minha vida, muito menos na Páscoa: papel de seda e fita mimosa de todas cores e papel celofane. Na próxima fornada talvez ganhe um ajudante-mirim, em quem deposito minha esperança de dar continuidade a essas criancices que me fazem começar o dia com entusiasmo. Bruno também prefere ovo-com-surpresa, mas gosta de fazer biscoito e das pequenas surpresas que essas atividades simples nos presenteiam. Um sinal verde que vale o investimento nas horas compartilhadas com a mão na massa. Uma curtição, porque brincar acompanhada tem muito graça!

Dedicatória
Este post vai especialmente para dois amigos queridos lá das Minas Gerais, que esperam há dias para a receita dos biscoitos sair do forno. Cláudia Mello, que também contribui diariamente com o astral das minhas manhãs pelo Via Tarot, e Fabiano Mayrink, do Blog do Luar Encantado. Surpresas é com eles mesmos, e eu adorei recebê-las como prova de que a nossa melhor parte é mesmo movida a gentis trocas. Fofas, a bolsinha e capa para livro são produções da Cláudia - jornalista, taróloga e crafter - no seu terceiro turno.


Anunciando o outono, o móbile do Fabiano é um manifesto à beleza natural, tudo a ver com esse menino que percorre os caminhos da Biologia.