quinta-feira, 29 de julho de 2010

Jeitinhos

Tenho o nariz bem torcido ao jeitinho que nos rotula como um povo "esperto", sempre pronto a encontrar uma maneira de se dar bem, pouco importando o mal que possa respingar dessa malandragem. Em busca da imagem acima, acabei sabendo um pouco mais sobre a tal característica histórica e relaxei ao saber que, de acordo com o professor Lourenço Rega, autor do livro "Dando um Jeito no Jeitinho", ele também tem seu lado positivo reconhecido em três características: inventividade/criatividade, função solidária e o lado conciliador do jeitinho. Não fui atrás das duas últimas, já que a intenção é somente ilustrar o post sobre algumas alternativas encontradas dentro do quesito inventividade seguindo o mantra aquele de "fazer do limão uma limonada". Acredito que quem convive com algum tipo de restrição desenvolve essa capacidade naturalmente, talvez com mais facilidade. Fecha-se alguma porta e o ser humano se põe a recorrer à sua criatividade e descobrir soluções inimagináveis, muitas vezes. Se as limitações são físicas, como é comigo, os jeitinhos nascem dia a dia em estratégias rapidamente montadas. Falha uma, procura-se logo outra, e outra, até resolvermos o que "atravanca o caminho (eles passarão... eu passarinho, não é, Mario Quintana?)". Se o corpo fala, quem não pode contar com sua eficiência integral trata de falar com ele numa linguagem de conciliação. E só assim é possível tocar a vida, embora nem sempre o tom dessa parceria seja assim tão amistoso (rs). Mas a gente tenta, esperneia para manter "a mente quieta, a espinha ereta, o coração tranquilo", rebola para não entregar o jogo aos arqui-inimigos que rondam com carapuças de desânimo e auto-comiseração e também para aprender a jogar a toalha quando a escalada é demasiadamente pesada e nenhum jeitinho pode suavizá-la.
Então, treinada em "limonadas"...
O que era vidro e se quebrou ganhou um "curativo" de superbonder e renda e uma cara única para proteger os bolos na cozinha.
O que era pesada e muito linda caiu do galho intacta, acompanhada de outras duas, que deram dois suspiros e depois...
foram morar em outro arranjo, sob a benção da deusa sonhadora.
O que era uma calça jeans renasceu em forma de bolsa florida...
e como a costureira não é lá essas coisas, ela emprestou seu bolso prontinho...
que foi aplicado no tecido que sobrou dessa outra aqui...
E como a costureira não sabe colocar fecho, um botão resolve o fechamento...
e um crochezinho aumenta as tiras ...
E com jeitinho de menina-moça, em rosa-azul-verde, pronta para ser embalada para presente. Presente para minha mãe, menina vaidosa de 79 anos que apaga velinhas hoje, aquela que me ensinou a espremer o limão, com jeitinho, para não amargar (e a quem abraço de longe, porque 4 lances de escada nos separam, o elevador do seu prédio está em conserto e pra isso não tem jeitinho... Quem sabe uma mágica que me desse asas? ... rs).

16 comentários:

Cecilia e Helena disse...

Que post mais legal, Rosana! E parabéns pra sua mãe! Ela vai adorar o presente. Acho que o 'jeitinho', quando usado pro bem, vale muito a pena. Do outro 'jeitinho', eu já não gosto muito não... sou certinha de dar dó! Papai e mamãe me ensinaram a ser assim... fazer o quê? Às vezes me sinto remando contra a maré...
Beijão
Helena

Cris Rosa disse...

Eu também não gostava do famoso "jeitinho" sempre pensei nele no pejorativo, mas agora...até o aceito(rs)! Linda sua bolsa, super caprichada! Adorei mesmo!E Parabéns para essa super mãe que ajudou vc a se tornar essa super, maravilhosa, querida pessoa!
Bjkas

Beti Copetti disse...

Parabéns pra mamãe!!! Daqui a alguns dias a minha faz 85!

Nanci M.dos Santos disse...

Rosana...estou aqui, na minha primeira visitinha ao seu blog. Quem me trouxe? Ah, eu vim depois de ter lido o post da Cecília. Bateu curiosidade, vim e adorei! Parabéns pra sua mãe e Parabéns à voce pela bolsa! Ficou linda e original!!um grande beijo

Vero Kraemer disse...

Rô, que bolsa linda, linda, maravilhosa!!!
Parabéns pra ti e pra tua mami!!!
Beijossssssssss, minha amiga
Vero

Laély disse...

Rosana, ao terminar de ler o post, lembrei do filme sobre Ray Charles (que deu um Oscar merecido a Jamie Foxx) e a influência alavancadora que a mãe teve, na vida dele.
Parabéns à você, que fez da limitação um apêndice( no caso, a muleta) na vida e não da vida, o apêndice da limitação! E apêndices, sabe, são extirpados, sem ser notada a sua falta!
Parabéns à mamãe, porque viver tantos anos, a cada um, superando-se, não é com qualquer jeitinho que se consegue!
Beijo, beijo( um, pra cada uma!)!

Rosana Sperotto disse...

Helena, sabia que a turma dos "joõezinhos do passo certo" se encontraria por aqui (rsrs). Sei bem como é essa sensação de remar contra a maré, mas sigamos fortes, companheira (rs), que esse jeito certinho é mesmo o melhor canal, né? Beijos, querida filha da Cecília, que hoje me fez sorrir de "orelha a orelha"

Oi, Cris! Minha mãe inflaria de orgulho se lesse tuas palavras (rs). Obrigada por sempre ser tão gentil. Beijocas!

Beti, acho que soubesse que verias este post, não teria dado o clique no publicar (rsrs). Sempre que me atrevo a costurar lembro de vocês, mestras de primeira nas habilidades com tecidos, agulhas, máquinas... Mas, enfim, improvisando daqui e dali vou aprendendo alguma coisa. Parabéns pra sua mãe também! Beijo

Oi, Nanci, que bom te receber aqui! Sempre te encontro nos comentários em outros blogs e fico feliz que tenhas gostado do Amém. A bolsa, ainda engatinho nessa praia, mas sou teimosa... (rs). Beijos de boas-vindas!

Oi, Vero! Adoro teu entusiasmo! Imagina, a bolsa é resultado de uma aprendiz bem rasinha na costura, mas fico contente que tenhas gostado. Beijo, querida!

Rosana Sperotto disse...

Laély, o filme me tocou muito, acho que chegamos a comentá-lo aqui, né? Me sensibilizou mais ao me colocar na pele da mãe "se mordendo" por não poder ajudá-lo para que ele aprendesse a se virar sozinho, imaginando-me na sua pele mais do que na dele, talvez porque a cegueira é lgo que me desnorteia só de pensar, talvez porque hoje sou muito mais mãe do que filha. Ô, querida, que linda essa analogia dos apêndices. Não vou esquecer, vai pra caixinha das preciosidades. Darei teu beijo na mãe, e ela ficará feliz, sabes o quanto gostou de ti, né? Abraço grande!

Beti Copetti disse...

hehehe É porque você não leu meu post "Fazendo limonada". Sempre temos alguma coisinha que segue vivendo com outro uso, depois do inicial ter ficado impossível. E acho ótimo apelar pra criatividade e dar o jeitinho necessário para que isto aconteça. E às vezes até fica melhor! ;-)

PatchJoana disse...

Este post caiu direto e impetuosamente na minha manhã de hoje.
Grazie.

Cecilia Helena disse...

Oi Rosana, eu admiro tanto você e dou crédito à sua mãe, que te fez assim,lutadora e criativa! Mãos de fada, tudo que toca, embeleza! Tá tudo lindo,a mãe vai ficar hiper feliz com a linda bolsa! A tampa do porta-bolo ficou romântica, que boa idéia! E quanto à escada, ai essa é de doer, como pode alguns blocos de concreto impedir tal encontro??? Tenho visto a luta de um concunhado meu que está acometido de uma doença terrível (ELA) que já está na cadeira de rodas e mora em um sobrado(apenas na parte de cima) e quando precisa sair de casa, meu marido corre lá para ajudar a descê-lo de dois lances de escada. Pagou UNIMED a vida toda e agora não tem direito a tratamento para essa doença, chamaram a ambulância do Home Care e eles apenas levam-no mas não ajudam a descer e subir a tal ínfame escada!!! Moro em sobrado, eu e o marido já estamos a pensar no dia de amanhã e dar um jeito de mudar, mas nisso teremos que usar o jeitinho brasileiro! Espero que esse elevador fique pronto logo logo! Bjs

Ana Matusita disse...

Fiquei muito emocionada com os seus jeitinhos de criar e embelezar. Não sei se realmente existe jeito pra tudo nessa vida, mas os pequenos jeitinhos a tornam mais gostosa de ser levada, né?
Um dia, gostaria de te contar a estória do avozinho do meu marido, que ficou cego aos 17 anos numa explosão em que perdeu o pai. Foi ele quem celebrou meu casamento e foi ele quem ensinou braile pra muitos outros cegos, pois criou um Lar dos Cegos na cidade deles, Ribeirão Preto. Um homem notável!
Beijo e bom findi,
Ana
ps: um grande beijo pra jovem aniversariante também!

Cecilia e Helena disse...

E vamos que vamos, remando contra a maré!
H.

Cissa Branco disse...

Rosana,

Porque sempre me emociono e fico revigorada quando leio seus posts?! Que alma iluminada você tem!
Beijos e bom final de semana

Rosana Sperotto disse...

Meninas da "segunda" turma a quem não respondi: dois dias com problemas na conexão é a razão da falta com vocês.

Beti, vou olhar tua "limonada" (rs).

Joana, torço para que os jeitinhos daqui tenham inspirado teu dia de alguma forma.Beijo!

Cecília, minha mãe é uma guerreira mesmo, e como lembrou a Laély, mães de filhos com alguma deficiência são fundamentais na forma como eles lidarão com suas dificuldades. A minha não "engoliu" o diagnóstico de que eu não caminharia. Arregaçou as mangas e provou que a persistência e a fé fazem "milagres". Sinto pelo teu concunhado. Essa doença é massacrante, acompanhei a mãe de uma amiga na mesma situação. Abraço grande, querida!

Ana, quero conhecer sim a história do vovô. Como disse à Laély, a cegueira me é algo muito assustador, por isso a imensa admiração aos que convivem com ela "na luz". Beijos!

Helena, uma hora a maré tem que ficar a favor, né? Beijo

Ô, Cíntia, assim quem se emociona sou eu... Obrigada. Bom domingo! Beijo

Cecilia e Helena disse...

Olá, Rosana, minha querida "sorriso solar":
Nem preciso dizer mais nada, só te mandar um abraço virtual bem apertado.
Cecilia (mãe da Helena)